Desde 2019, a cada 13 de abril, comemora-se o Dia da Mulher Sambista, graças à aprovação da Lei nº 5.146, de autoria do vereador Tarcísio Motta, do PSOL do Rio, pela Câmara Municipal de Vereadores do Rio de Janeiro. A efeméride coincide com o dia do nascimento de Dona Ivone Lara, a grande dama do samba brasileiro, uma mulher que abriu caminho no mundo das rodas e das escolas de samba.
E para celebrar o Dia da Mulher Sambista, entrevistamos a museóloga Desirrée dos Reis Santos, gerente técnica do Museu do Samba. O Museu do Samba está situado no centro do Rio de Janeiro, junto à comunidade do morro da Mangueira, e este ano completa 20 anos de existência. O museu surgiu como uma iniciativa do Centro Cultural Cartola, sobre o qual falamos no início da temporada passada quando emitimos três entregas sobre as matrizes do samba carioca: o samba de terreiro, samba partido alto e samba enredo, documentados no “Dossiê das matrizes do samba no Rio de Janeiro”, de 2006, que foi o ponta pé inicial para o reconhecimento do samba urbano carioca como patrimônio cultural brasileiro, em 2007. Graças ao esforço de Nilcemar Nogueira, neta do Cartola, o Centro Cultural Cartola se transformou em Museu do Samba.
O Museu do Samba se constitui a partir da coletividade de sambistas, com a missão de salvaguardar a memória do samba e seus protagonistas no Rio de Janeiro. Sobre isso, Desirrée dos Reis Santos diz:
Então, quando lá no começo, a preocupação era ‘Vamos criar um espaço para contar essa história que não é contada em lugar nenhum’, a gente tem que acentuar essa narrativa em primeira pessoa.
Ao longo da entrevista, além de contar sobre a criação do museu, Desirrée dos Reis Santos nos apresenta o acervo que a instituição reúne: um total de 45 mil itens, entre manuscritos, indumentárias e instrumentos. Muito especialmente, destacamos a coleção inédita “Memória das matrizes do samba no Rio de Janeiro” que, partindo da história oral e das histórias de vida, busca a preservação da memória dos protagonistas do samba. Atualmente, esta coleção conta com quase 150 relatos, resultado de entrevistas gravadas em suporte audiovisual a personalidades do mundo do samba e das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Este acervo ainda não está em acesso aberto, porém as pessoas interessadas e pesquisadores do universo do samba podem consultá-lo sob petição prévia ao e-mail contato@museudosamba.org.br.
Para o futuro, em um contexto pós-pandemia, Desirrée Santos aposta pelo investimento na cultura, e continuar se adaptando a novas ferramentas virtuais para a comunicação e divulgação cultural.
E como se transforma em objeto de museu uma expressão artística ou musical? Segundo Desirrée Santos, no caso do Museu do Samba, esse processo inclui desde a realização de atividades educativas até a gravação e registro de músicas. Realmente, a complexidade do imaterial é um dos desafios do museu: o samba como “forma de expressão”, como “modo de vida” (segundos os bambas) se materializa nas fantasias, nas receitas das baianas, na religiosidade etc.
E finalmente, chegamos ao tema das mulheres no samba. De acordo com Desirrée Santos, o tema das mulheres no samba é estratégico e transversal tanto para a organização das atividades do museu, por exemplo, o Plano educativo e o acervo de memória oral, como para a constituição de acervo. E isso se justifica, segundo a nossa entrevista porque
“se a história do samba já é silenciada, imagina a história das mulheres no samba?”
A Desirrée Santos, o nosso profundo agradecimento pela oportunidade dessa entrevista.

Desirrée dos Reis Santos
É Doutoranda em Museologia e Patrimônio pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio, Brasil). Como gerente técnica do Museu do Samba, atua na equipe de coordenação do programa “Memória das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro” e coordena o programa de Educação Patrimonial da instituição.
Contato:
Museu do Samba
Rua Visconde de Niterói, nº 1296
Mangueira – Rio de Janeiro – RJ
+55 21 3234.5777
Página web: www.museudosamba.org.br
Facebook, YouTube, @museudosamba