O samba da minha terra: Grupo Teresa com S de samba

Podcast da emissão com uma entrevista ao grupo de samba mineiro “Grupo Teresa com S de samba”, formado somente por mulheres.

Para esta entrega da coluna “O samba da minha terra”, e continuando com a nossa série dedicada às mulheres no samba, apresentamos o Grupo Teresa com S de samba, um grupo mineiro formato somente por mulheres.

E para falar sobre o grupo, entrevistamos as integrantes do grupo: Fernanda Régila (musicista, compositora e produtora, fundadora do grupo, além de professora no curso de graduação em Educação musical na Universidade do Estado de Minas Gerais); Natália Pessoa dá voz ao Grupo Teresa e é violonista; Paloma Alves, que é percussionista desde os 11 anos, produtora que exerce no cenário cultural de Belo Horizonte, e formada em música pela Faculdade Izabela Hendrix. E fechando o quarteto, Zaíra Magalhães, que é jornalista e produtora cultural e diretora artística do disco A cada esquina uma breve história sobre formas de amar.

Fernanda Régila começa a entrevista contando que o nome do grupo faz referência à corda teresa, uma corda formada por pequenos pedaços de tecido que, juntos e bem amarrados, formam uma corda mais forte, a corda teresa. Para ela, o simbolismo da corda teresa transmite o ideal do grupo, de que juntas são mais fortes.

Por isso, a gente diz que quando nos reunimos nós formamos “Teresa”, representando a união, a força, a liberdade. Só quando estamos juntas é que somos “Teresa”. Outro detalhe importante também, é o “s”: normalmente, Tereza se escreve com “z”, e a gente escreve com “s”, por causa do “s” de samba, de Brasil, como é grafia correta da nossa língua materna. Então, é Teresa com “s” de samba.

O Grupo Teresa completou 10 anos em 2020, e para celebrá-lo lançaram o primeiro disco autoral, o álbum A cada esquina uma breve história sobre formas de amar, na véspera do Dia dos Namorados, que no Brasil é comemorado no mês de junho, do ano passado. O disco fala sobre as diversas possibilidades de amor e conta com a participação de outras musicistas, todas mulheres mineiras e uma pernambucana, a cantora Karla Matos. Segundo Zaíra Magalhães, o disco é fruto de um esforço coletivo de muitas mulheres.

Também privilegiamos a mão de obra feminina, com a exceção de um trabalhador, que foi a pessoa que cuidou da gravação e da mixagem. No demais, todas as outras pessoas que trabalharam no disco tanto na parte artística quanto em gestão e produção foram mulheres. E tudo foi produzido coletivamente.

Mas, em tempos de pandemia, lançar um disco autoral é um duplo desafio. Sobre este assunto, Paloma Alves conta que, apesar das restrições para a organização de eventos culturais massivos, as redes sociais foram uma ferramenta importante para criar uma forma totalmente nova de interação com o público. E que funcionou!

E hoje, também, contando com o retorno do que a gente faz de postagem, de trabalho nas redes sociais do Grupo Teresa. A gente tem recebido um feedback positivo, inclusive a gente consegue marcar alguns shows a partir das redes sociais, a partir do que as pessoas estão vendo a gente postar na página da banda. Eu acho que por causa desse momento, é mesmo uma das maneiras que a gente tem de voltar a trabalhar, às vezes até de ativar um público que ainda não conhece o nosso trabalho, não conhece o nosso CD, e conseguir captar esse público através da rede social.

Com relação ao nosso tema central, o papel das mulheres no samba, destacamos duas referências: a palavra resistência e dois nomes próprios, Tia Ciata e Dona Ivone Lara, sem dúvida, duas mulheres imprescindíveis para a história do samba e para a visibilidade das mulheres no samba. Para Fernanda Régila,

Ela [Tia Ciata] lutou e defendeu o samba. E para mim, a história dela ilustra muito bem como os nós, mulheres, estamos no cenário do samba atualmente. Ainda que o ritmo vai tomando outras formas perante a sociedade e sendo mais aceito, a mulher ainda está num papel coadjuvante.

Para Natália Pessoa, Dona Ivone Lara, além de ser uma referência musical para o grupo, foi pioneira em abrir o caminho para a entrada das mulheres no universo do samba como música, desde a composição chegando até a interpretação:

Eu penso que esse caminho começou a ser trilhado por Dona Ivone Lara, e a partir dela, vieram outras mulheres tentando abrir esse caminho para que a gente pudesse chegar aonde chegamos. Mas, eu acho que a gente ainda tem um longo caminho que percorrer. O samba ainda é um território machista, mas a gente está aí na busca, tentando levar o samba com muita propriedade e com muita liberdade também, expressando o que a gente quer expressar sem vergonha e sem medo.

E na última parte da entrevista, falamos sobre referências femininas no samba. E fica aqui a dica para quem quiser conhecer mais sobre essas vozes femininas brasileiras: Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Elza Soares – que faleceu a menos de um mês, no último dia 20 de janeiro -, e outras referências contemporâneas: Mart`Nália e Marienne de Castro.

O disco A cada esquina uma breve história sobre formas de amar tem 14 faixas: a primeira é um ponto sobre Oxum, de domínio público, que é a música que, para as integrantes do grupo, transmitia a energia que querem passar com o disco. As músicas que escutamos no programa são: “Beijo de amor”, uma composição original de Natália Pessoa; “Horário comercial”, na voz de Karla Matos com Grupo Teresa com S de samba, uma composição original de Zaíra Magalhães e Natália Pessoa; e “Não sou mais” uma composição original de Natália Pessoa.

Para conhecer mais sobre o Grupo Teresa com S de samba confere a página web do grupo, também no Instagram @grupoteresa e no YouTube.

E a nossa recomendação: o disco A cada esquina uma breve história sobre formas de amar está completo no Spotify.

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