BioBrasil: entrevista Igor Georgios Fotopoulus

Propomos um programa híbrido, misturando ciência, educação, cultura e divulgação científica... E tudo centrado na preservação dos ecossistemas amazônicos.

Nesta emissão de BioBrasil falamos com Igor Georgios Fotopoulus, licenciado em Ciências Biológicas e professor do departamento de Biologia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR, Brasil). Desde o ano 2000, Igor utiliza o conhecimento científico associado às técnicas e à linguagem fotográfica para documentar a Amazônia, contribuindo na ilustração de livros, exposições, campanhas publicitárias e diversos meios de comunicação visual. De repente, o nome dele já é familiar, porque foi autor de um dos projetos selecionados no programa de Residência Artística de Fotografia de 2020. A exposição se intitulava “La luz en los ecosistemas forestales amazónicos” e esteve aberta a visitação no Palácio de Maldonado entre outubro e novembro do ano passado.

Entretanto, hoje falamos com o Prof. Fotopoulus, com motivo do seu trabalho como divulgador científico e especialista nos ecossistemas amazônicos que tão bem retrata.

A educação ambiental

em primeiro lugar, perguntamos até que ponto é importante a educação ambiental para garantir um desenvolvimento sustentável no futuro. De acordo com o professor, uma pessoa educada no sentido literal da palavra, automaticamente tem mais capacidade de compreensão de outras áreas do conhecimento, incluindo aquelas relacionadas com o meio ambiente. Assim, por exemplo, uma pessoa educada não vai sujar os rios, jogar lixo onde não se deve ou provocar um incêndio em um bosque.

Por outro lado, para garantir a sustentabilidade dos benefícios da natureza é imprescindível que as pessoas interiorizem, em primeiro lugar, a noção de cidadania, porque isso implica pensar nos demais, valorizar as pessoas não só da nossa geração, mas das gesrções futuras da mesma forma que a nós mesmos. Isso é algo complicado, porque resulta difícil sentir afinidade com quem não nos relacionamos habitualmente ou, ainda pior, com quem ainda não chegou a este mundo.

Igor Fotopoulus comenta que a educação ambiental no Brasil foi instituída em 1999 através da Política Nacional de Educação e, apesar de ser obrigatória em todos os níveis da educação formal brasileira, na prática isso não acontece. Isso é algo que pode ser comprovado através do Relatório PISA, o programa internacional de avaliação de alunos realizado em 2021, no qual o Brasil aparece na 57º posição. Ainda que o relatório avalie aspectos como a compreenão leitora, as competências matemáticas, etc., e não os conhecimentos ambientais propriamente, como o professor Fotopoulus menciona na entrevista, é um claro reflexo do fracasso da educação e uma pessoa não educada não pode sentir respeito pela natureza. Como consequência disso, o nosso entrevistado afirma que a sociedade brasileira acumula carências de conhecimento que a tornam incapaz de gerar desenvolvimento tecnológico e, principalmente, biotecnológico, apesar de ter ao seu alcance a floresta com a maior diversidade biológica do planeta. Isso obriga os brasileiros a explorar os recursos naturais de maneira predatória e com um grande impacto ambiental.

E como paramos tudo isso? Há alguma iniciativa de educação ambiental em andamento no estado de Rondônia, onde o Prof. Fotopoulos ensina e trabalha? Felizmente, sim. A Universidade Federal de Rondônia tem programas objetivando a educação ambiental continuada para suprir as carências que os alunos trazem de níveis educativos anteriores.

Riscos e ameaças para os ecossistemas amazônicos

Também perguntamos ao professor Igor Fotopoulus quais são as principais ameaças aos ecossistemas amazônicos no estado de Rondônia e se é possível garantir um desenvolvimento sustentável na região.

Ele comenta que os ecossistemas amazônicos apresentam umas particularidades comuns a toda a Amazônia Legal, especialmente ao que se refere à história de ocupação. As regiões amazônicas sempre foram vistas como uma fonte inesgotável para a extração de recursos e, por isso, a historiografia a descreve em função de seus diferentes ciclos de exploração: o ciclo da borracha, o ciclo do ouro, o ciclo da agropecuária e, mais recentemente, o ciclo da produção da energia. Nesse sentido, é interessante analisar os atores envolvidos em cada ciclo da exploração: no ciclo da borracha, por exemplo, que começou no final do século XIX e se prolongou até 1945, a extração do látex estava nas mãos dos índios e seringueiros, que não exploravam excessivamente os recursos naturais nem desmatavam a selva para atender às demandas dos mercados nacionais e internacionais. Mas, com o passar do tempo, outros agentes ocuparam o lugar com novas formas mais agressivas de exploração dos recursos.

Atualmente, a queimada de amplas zonas da floresta para expandir e submeter o agronegócio, além do uso descontrolado de agrotóxicos que contaminam o meio ambiente e compromotem a biodiversidade, somado às represas construídas para a produção de energia elétrica, são as principais ameaças para os ecossistemas amazônicos em geral, incluindo o estado de Rondônia. Daí, a importância de haver um câmbio de paradigma e ênfase no conceito de cidadania para garantir um desenvolvimento sustentável na região.

A fotografia como ferramenta de divulgação científica

O ano de 2021 foi de grandes conquistas pessonais para o professor Igor Fotopoulos, primeiro porque entrou no programa de doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia na Amazônia Legal e, segundo, porque pôde expor o seu trabalho na Espanha. De fato, há uma relação estreita entre os dois acontecimentos, pois a pós-graduação aprofundou seus conhecimentos em Biologia e Ecologia, influenciando a sua forma de ver o mundo. Assim, acabou despertando nele um grande interesse pela natureza: a flora e a fauna que compõem os ecossistemas forestais amazônicos, e começou a utilizar a fotografia como uma ferramenta de trabalho de campo, já que, assim, podia produzir um material que depois seria compartilhado com outras pessoas e meios de comunicação.

A fotografia que lhe interessa é a que produz um discurso coerente da linguagem visual, permitindo a sensibilização do expectador e transformando a percepção do indivíduo. A medida em que foi aperfeiçoando o seu estilo, foi notano que as duas linguagens, a fotografia e a divulgação científica através de textos acadêmicos são excelentes meios de divulgação e concientização da população sobre muitos temas, incluindo os temas ambientais.

Agradecemos o professor Fotopoulus pela amabilidade, desejando-lhe o melhor em seus planos futuros.

Músicas do programa

Igor Fotopoulus proôs três grandes músicas para terminar o programa. A música na emissão na rádio foi “Refloresta” na inconfundível voz de Gilberto Gil. A música é a trilha sonora do projeto homônimo promovido pelo Instituto Terra, fruto da iniciativa de Lélia Deluiz Wanick Salgado e Sebastião Salgado.

A segunda canção proposta pelo nosso entrevistado foi “Ouro Lata”, de Duda Brack e Ney Matogrosso, na versão de Baiana System, um grupo de reggae fundado em 2009, em Salvador (Bahia, Brasil), que ficou famosa por fazer parte da trilha sonora de um conhecido jogo de videogame.

E a última proposta foi “Meus Olhos”, de Kaê Guajajara, cantora, compositora, atriz e ativista indígena brasileira, do povo Guajajara, cujo trabalho está dedicado a despertar a conciência social sobre muitos problemas que nos acometem hoje em dia.

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