#DicaUSAL: Portal de Revistas EUSAL

Podcast com a entrevista a Iván Pérez Miranda sobre o Portal de Revistas de EUSAL.

Nesta nova entrega de #DicaUSAL, vamos conhecer o Portal de Revistas científicas da Universidade de Salamanca, associado a Ediciones Universidad de Salamanca (EUSAL), a editora da universidade.

Há cinco anos, a população mundial pasmava diante dos sucessivos acontecimentos desencadeados pela primeira pandemia do século XXI. Nesse momento, suplicamos que a ciência encontrasse uma forma de reverter aquela situação, e todos nós passamos a vigiar as notícias que divulgavam a publicação de novas descobertas, medicamentos e tratamentos para a covid-19. Em linhas gerais (e bem resumido!!), esse era o caminho que percorria o conhecimento científico: o que se descobria entre os muros de um laboratório devia ser rapidamente compartilhado e publicado através de revistas científicas. Provavelmente, você ainda se lembre de referências como a revista The Lancet (fundada em 1823) ou a Revista Internacional de Agentes Antimicrobianos, da editora Elsevier, com a publicação do polêmico artigo sobre tratamentos de covid-19 com cloroquina.

Porém, o que talvez pouca gente saiba é que as revistas científicas vêm sendo uma ferramenta de validação do conhecimento científico há muito tempo. As primeiras revistas científicas foram criadas em Londres e Paris por volta de meados do século XVII. Surgiram no âmbito das sociedades científicas, e um dos seus personagens decisivos foi o editor inglês Henry Oldenburg, quem por primeira vez elaborou uma estratégia para o compartilhamento de descobertas científicas. Ele foi também o primeiro que se preocupou em que era necessário estabelecer a autoria como responsável pelo descobrimento, e a publicação seria como uma espécie de cartório para garantir “a propriedade” do conhecimento científico. Oldenburg foi também responsável por estabelecer um processo de revisão do conhecimento que um cientista apresentava como nova descoberta. O processo consistia em que a pessoa interessada enviava um texto com os resultados de sua pesquisa, e o nosso editor delegava a outros especialistas com o mesmo nível do autor para que revisassem o artigo.

Tudo isso – claro, de forma resumida e simplificada -, para dizer que esse sistema de publicação do conhecimento científico abria um espaço público de comunicação da ciência. Esse espaço criado e fundamentado na publicação de revistas “controladas” por revisores, de certa forma, permitia que toda a comunidade científica acessasse as descobertas.

Basicamente, a divulgação de descobertas científicas através de revistas especializadas continua acontecendo até hoje não sem complexidades, críticas e debates. No entanto, é certo que as revistas também continuam sendo o canal prioritário para a comunicação da ciência e validação do conhecimento científico.

Se você quer conhecer o Portal de Revistas da Universidade de Salamanca, confere aqui a entrevista com o editor técnico da EUSAL, Iván Pérez Miranda.

Ediciones Universidad de Salamanca é a editora mais antiga da Espanha, e entre seus compromissos, divulga a pesquisa e o conhecimento científico produzido na instituição e fora dela. Uma de suas grandes linhas de atuação é o Portal de Revistas científicas. EUSAL publica revistas científicas desde 1948. No entanto, o e-Revistas é um portal de acesso aberto, criado em 2009 e que utiliza a ferramenta Open Journal System (OJS), um software livre, que está em sintonia com a política de Ciência Aberta da instituição. 

Para Iván, o Portal de Revistas é o “irmão” do portal principal de monografias. As revistas publicadas são de comunicação científica, ou seja, seu conteúdo passa previamente por um processo de avaliação por pares. As revistas publicadas no portal de EUSAL se caracterizam justamente por sua diversidade de áreas, mas encontramos um número mais representativo nas áreas de Ciências sociais e Humanidades, como Zephyrus, uma das mais antigas revistas publicadas pela editora, que nasceu no formato impresso e cresceu no digital.

Acesso aberto e avaliação por pares: dois conceitos para entender a publicação científica

Com relação às revistas científicas, o Acesso Aberto significa que os artigos estão disponíveis aos leitores de forma gratuita e sem restrições. O usuário pode acessar os artigos de forma gratuita, sem ter que se registrar em nenhuma plataforma, pode baixá-lo, comparti-lo, mas sempre sem fins comerciais.

Na entrevista, Iván Pérez Miranda também fala sobre os perigos das revistas predatórias, que publicam trabalhos de qualidade questionável em troca de dinheiro. Chama a atenção para a existência de empresas que se dedicam a comprar revistas que estão bem-posicionadas e que têm prestígio, para transformá-las em predatórias. Para não se arriscar com esse tipo de revistas, Iván recomenda pesquisar as revistas científicas publicadas por universidades públicas, já que elas oferecem uma garantia ao autor e leitor, porque não há interesse em explorar economicamente a produção intelectual da comunidade científica.

A avaliação por pares cegos (Double-blind peer review) é uma das etapas pelas quais deve passar um texto até ser publicado. Em linhas gerais, a primeira avaliação consiste em conferir o cumprimento de requisitos mínimos como as normas de formatação estabelecidas pela revista, o tema, se é uma pesquisa original e controle de citação, mais conhecido, como controle de plágio e autoplágio. Se o texto cumpre com esses requisitos, ele é enviado a dois especialistas no tema para avaliação de seu conteúdo.

Todos os artigos recebidos são, primeiramente, analisados pelo comitê editorial da revista, que decide se cumprem os requisitos mínimos: o tamanho da publicação, o tema, se se trata de uma pesquisa original — por exemplo, plágios (ou autoplágio) ou publicações que não sejam originais não são aceitos. Deve ser uma publicação original. Se já foi publicada, não é de interesse. Uma vez que se verifica que, em princípio, o artigo cumpre com esses critérios, ele é enviado para revisão, normalmente por dois especialistas de reconhecido prestígio, cujos nomes não são revelados — ou seja, o autor não sabe quem o está avaliando, e o avaliador não sabe quem está sendo avaliado.

Os avaliadores devem enviar o parecer ao comitê editorial argumentando se o trabalho é “publicável”, “publicável com acertos” ou “recusado”. Em caso de pareceres “em conflito”, recomenda-se solicitar a avaliação de um terceiro parecerista.

Colaboração institucional

Já sabemos que as revistas são fundamentais para a comunicação do conhecimento científico. Porém, as revistas também são uma via de colaboração institucional importante. No caso das revistas de EUSAL, não se trata unicamente de publicar artigos assinados por pesquisadores da universidade, mas publicar artigos de todos os pesquisadores que tenham um trabalho original e inédito, e assim atrair para as revistas aqueles trabalhos que despertam grande interesse entre a comunidade científica mundial.

Algumas das revistas publicadas na casa dependem dos departamentos das faculdades, mas outras contam com a contribuição de sociedades científicas. Entre as instituições internacionais, nosso entrevistado cita a colaboração com a Universidade de São Paulo, na edição da Revista de Estudios Brasileños, a revista do Centro de Estudos Brasileiros.

Polêmicas sobre os preprints

E como o mundo da comunicação científica não está isento de polêmicas, não podia deixar de fora algumas das mais criticadas e debatidas, os famosos preprints, ou seja, pré-impressão. Iván esclarece que há uma certa confusão ao redor deste conceito. É necessário diferenciar entre as publicações em fluxo contínuo, ou seja, uma vez que um artigo está preparado para publicação, a revista não espera o fechamento do número para publicá-lo, isso permite publicar de forma mais rápida e sem demoras. Outro tipo de publicação é o acesso antecipado, mais conhecido como Early Access. Aqui, o artigo completo faz parte de um número e a paginação na revista é feita posteriormente, quando o número, sim, estiver completo. E, finalmente, o que chamamos preprint mais estritamente. Trata-se da publicação do original sem correção e sem diagramação. O tema é complexo porque traz consigo, em muitos casos, o debate acerca das avaliações em aberto, prescindindo totalmente da anonimização do trabalho e do processo de avaliação. E por que isso pode chegar a ser problemático? Por beneficiar ou prejudicar autores e avaliadores. Mas, não fica por aí, há também o dilema entre priorizar a rapidez na publicação em detrimento da qualidade contrastada do trabalho.

Sim, há também uma posição que defende as avaliações abertas, mas isso gera problemas que, do meu ponto de vista, são evidentes. Seria um pouco ingênuo pensar que não haverá repercussão no fato de um avaliador avaliar alguém e esse alguém saber quem rejeitou seu artigo, porque essa pessoa pode, no futuro, estar em sua banca ou avaliar outro artigo — podem surgir inimizades, amizades... Enfim, por isso a origem da avaliação por pares cegos era clara. Agora, isso está sendo questionado. Os artigos em preprint têm vantagens claras, como a rapidez, e também desvantagens, como o incentivo à disseminação de informações falsas. O exemplo mais claro foi com a covid. Na época da covid, muitos preprints foram publicados.

E para polemizar ainda mais, como lidar com uma certa tendência de publicar resultados de pesquisas em redes sociais? Para Iván, o assunto é espinhoso e importante em partes iguais.

Eu acho que é importante estar ali e que se faça visível, mas tem havido uma tendência de questionar o sistema tradicional de avaliação das revistas, baseado em quartis, em fator de impacto total, pelas métricas. E entre essas métricas, está o impacto nas redes sociais, como o Twitter — agora chamado X. Ultimamente, o [X] tem gerado polêmicas por certos assuntos, então muitas revistas, muitos autores se afastaram dali. Por que o Twitter [X] seria um lugar para encontrar publicações científicas ou notícias falsas? Que garantias ele oferece? Estamos no mesmo espaço onde estão aqueles que espalham desinformação. Será que devemos estar ali? Talvez, seja algo que se possa debater.

É necessário divulgar a pesquisa científica, especialmente, aquelas desenvolvidas com financiamento público, mas será que isso não prejudicaria a comunicação do conhecimento científico em prol do império das métricas? Fica aberto o debate.

Para conferir as revistas publicadas pela editora da Universidade de Salamanca, entra em eusal.es ou diretamente em revistas.usal.es. As publicações também estão disponíveis no repositório institucional da USAL, que se chama Gredos. Para consultas gerais sobre o Portal de Revistas, escreva a revistas@usal.es.
  

Iván Pérez Miranda é doutor em História Antiga, com prêmio extraordinário, ministrou docência na Universidad de Valladolid nas áreas de Didática das Ciências e em Teoria e História da Educação. Atualmente, entre suas funções, se dedica à produção digital e impressa, especialmente as revistas científicas. É também codiretor e fundador da revista El Futuro del Pasado.

#DicaUSAL é uma coluna do programa Brasil es mucho más que samba dedicada a divulgar serviços e recursos oferecidos pela Universidade de Salamanca. Brasil es mucho más que samba se emite todas às terças-feiras, às 17h30, em Rádio USAL. Para sugerir uma pauta ou contatar com a equipe do programa, escreva ao masquesamba@usal.es

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