"Fantasia brasileira": uma janela para o Brasil mágico de Jorge Matheus
O artista brasileiro Jorge Matheus, radicado na Espanha há anos, foi o protagonista de um dos episódios mais recentes do programa #BMQS. Sua voz pausada e envolvente nos guia por uma viagem que vai além da arte e nos mergulha em um universo visual profundamente conectado à memória, à natureza e aos símbolos de sua terra natal. O podcast, já disponível em nossas plataformas habituais, nos convida a descobrir a história pessoal e criativa por trás de Fantasia brasileña, uma exposição que pôde ser visitada até o último dia 29 de maio na sala do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca.
Nascido no Rio de Janeiro, Jorge Matheus formou-se na Escola Nacional de Belas Artes e, desde então, sua vida tem sido marcada pelo movimento. A França foi sua primeira parada europeia antes de se estabelecer definitivamente em Madri, cidade onde desenvolveu uma carreira versátil nos campos da ilustração, do design gráfico, da fotografia e, mais recentemente, da pintura. Sua obra reflete esse percurso: uma mistura de cores, culturas, linguagens visuais e técnicas que se entrelaçam sem preconceitos, resultando numa estética livre, vibrante e profundamente evocativa.
Fantasía brasileña não é uma exposição tradicional. Não pretende ensinar nem impor uma mensagem fechada. É, antes, uma provocação poética. Nas palavras do próprio artista, trata-se de um convite a olhar e a deixar-se afetar. As telas que compõem a mostra nos colocam diante de um Brasil onírico, onde onças caminham entre espíritos, tucanos observam do alto e as florestas respiram através das cores e formas. Nesse universo pictórico, os animais não são apenas figuras exóticas: são símbolos vivos de um ecossistema complexo e mágico, reflexo tanto do território quanto de seus habitantes.
A conexão com os povos indígenas é outro elemento central desta exposição. Os padrões geométricos dos tecidos, as pinturas corporais e os gestos rituais dialogam com a fauna e a flora em composições que desafiam as fronteiras entre o real e o imaginário. Para Jorge Matheus, cada linha, cada cor e cada traço são portadores de significado. E, no entanto, sua proposta não é didática: o espectador é livre para projetar na obra suas próprias interpretações, para construir seu próprio relato.
A conversa com o artista, disponível no podcast, permite um mergulho em seu processo criativo e em sua trajetória de vida. Ele nos fala de sua passagem pela Europa, de como a distância lhe permitiu enxergar o Brasil sob outro ângulo, com mais clareza e também com mais saudade. Conta como começou a trabalhar com materiais reciclados, como explora as possibilidades da arte digital sem abandonar a tela tradicional e como, no fundo, cada obra nasce do desejo de manter viva a conexão com suas raízes.
Fantasía brasileña foi exibida em diversos espaços no Brasil, em Portugal, na França e na Espanha, e evoluiu com o tempo. Mas sua essência permanece: um olhar amoroso, exuberante e crítico — ainda que não panfletário — sobre uma identidade cultural que resiste e se reinventa. Para Jorge Matheus, levar essa visão do Brasil profundo ao exterior é um ato de amor e de resistência. Um modo de manter viva a memória coletiva, de contar histórias que nem sempre têm espaço nos discursos oficiais.
No contexto do Centro de Estudos Brasileiros, a mostra encontrou um eco especial. Visitantes de diferentes nacionalidades puderam se aproximar de uma imagem do Brasil que vai além dos clichês turísticos. Por meio da cor, do mito e da natureza, Fantasía brasileña desperta emoções e perguntas. O que sabemos de fato sobre esse país? Que outras histórias poderiam ser contadas a partir de suas florestas, seus rios, seus povos originários?
O podcast da entrevista é uma extensão dessa experiência sensorial e conceitual. Com ele, o programa #BMQS segue construindo pontes culturais entre o Brasil e a Espanha, oferecendo vozes diversas e olhares comprometidos com a arte, a memória e a identidade.
Convidamos você a escutar o episódio e se deixar levar pela voz de Jorge Matheus. Porque, às vezes, basta olhar para um quadro — ou ouvir uma história — para viajar a mundos que pensávamos distantes, mas que ressoam no mais profundo de nós.