BioBrasil: Verve científica

Dedicamos o primeiro programa de 2022 a este interessante projeto de divulgação científica de Universidade Federal de São Paulo.

O primeiro programa deste ano está dedicado ao projeto “Verve científica”, vinculado à Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Para falar sobre a iniciativa, contamos com a presença do Dr. Eudes Eterno Fileti, físico, pesquisador do Instituto de Ciência e Tecnologia da UNIFESP. Ele é o criador e coordena o projeto “Verve científica” com Thaciana Malaespina.

O que é “Verve científica”?

A primeira pergunta era evidente! “Verbe científica” é um projeto que pretende despertar o interesse pela ciência entre os jovens e jovens adultos. Com os conteúdos compartilhados tentam apresentar os princípios fundamentais que regem o mundo físico, de uma forma clara, concisa e com pouca- ou nenhuma- matemática, que é algo que sempre assusta aos não iniciados na matéria. Para isso, trabalham em três flancos diferentes nos quais todos podemos atuar para melhorar o nosso pensamento crítico, ceticismo e racionalidade.

Na primeira linha, está a alfabetização científica, ou seja, não só transmitir conceitos técnicos, mas ensinar como funciona a ciência, seus métodos, que passos devem ser dados para comprovar e demonstrar o conhecimento… Por que podemos acreditar na existência dos dinossaurios, e não na dos gnomos, por exemplo? A resposta está no método científico, claro!

A segunda frente de atuação é a luta contra o negacionismo, as teorias de conspiração e o que conhecemos como “fake news”, rumores, notícias falsas que às vezes circulam como pólvora pela internet. Isso é, na verdade, uma aplicação da linha anterior, de alfabetização científica, porque como todos sabemos a ignorância se combate com leitura. Eudes comenta que é essencial não nos deixar enganar por falsas promessas de pseudociências, que sem embasamento de nenhum tipo prometem milagres imediatos ou justifican o que é injustificável. É necessário ensinar a confiar na ciência porque é a única que puede dar explicações a tudo a nossa volta.

A terceira linha seria a compreensão do processo científico, ou seja, como trabalham os cientistas, como se faz ciência. Desta maneira, os brasileiros podem valorizar o trabalho dos cientistas do país e nos anima a fazer o mesmo aqui na Espanha, a conhecer o trabalho dos cientistas espanhóis, a nos inspirar por ele. Não é preciso sonhar grande, nem querer ser o próximo Albert Einstein, mas sem dúvida o conhecimento científico precisa do esforço de muitas pessoas para continuar avançando. 

E para tornar o projeto mais acessível, tudo isso de que nos fala o nosso entrevistado está disponível na internet em Instagram, Facebook, Pinterest e principalmente em seu canal de YouTube.

Instituições científicas brasileiras

Agora que conhecemos um pouco melhor o projeto “Verve científica”, pedimos ao professor Fileti que nos desse uma visão panorâmica da ciência no Brasil. Eudes diz que para ter uma ideia clara da situação, em primeiro lugar é importante considerar as grandes diferenças sociais e econômicas entre as distintas regiões do país. Mesmo que há pesquisadores e cientistas em todos os estados brasileiros, nem todos têm condições econômicas para financiar as pesquisas. Essa situação leva a uma verdadeira migração de cérebros com destino so Sudeste, especialmente para São Paulo, um dos poucos estados que tem recursos suficientes para investir em ciência. 

Ainda que muitas universidades fora do estado de São Paulo possam ser consideradas grandes polos científicos do Brasil, como as universidades federais do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco, as mais destacadas e melhor posicionadas em todos os rankings estão, sem dúvida, em São Paulo, como as estaduais Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade de São Paulo (USP) e as federais Universidade de São Carlos (UFSCar), localizada no ABC Paulista e a UNIFESP. Todas elas desenvolvem pesquisas científicas de ponta em diversas áreas, especialmente, no âmbito de desenvolvimento de materiais, energia, meio ambiente, medicina e informática.

Eudes comenta que uma das principais preocupações que dirigentes cientistas têm é a internacionalização da ciência brasileira, por isso há muitos editais que incluem a participação de instituições de pesquisa do exterior. E menciona o programa “Sprint” da FAPESP, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, destinado a este fim, a promover o intercâmbio de alunos e docentes do Brasil e de universidades estrangeiras. Entre as instituições incluídas no programa, está a USAL. Além dessas colaborações oficiais, institucionais, há outras muitas colaborações pessoais pontuais entre grupos de pesquisa do Brasil e de outros países, especialmente a Espanha.

A ciência no Brasil: problemas e desafios

E para terminar, perguntamos a Eudes Fileti sobre a ciência hoje no Brasil, os problemas e desafios que enfrenta. Ele confessa que a situação não é nada boa. Começou a piorar com a crise política que assolou o Brasil entre 2014 e 2015, situação que resultou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff, e que se agravou com a chegada de Jair Bolsonaro à presidência em janeiro de 2019. Definitivamente, a ciência não é uma das prioridades de seu governo. Os cortes feitos no orçamento destinado à ciência e educação estão tendo um efeito dramático na vida dos pesquisadores. Por exemplo, muitos recém-doutores estão abandonando a carreira acadêmica depois de uma década de estudo e trabalho, por falta de incentivos e de apoio econômico. Com a pandemia, mesmo que parecia impossível, as coisas pioraram ainda mais.

Há uma legião de pessoas mal informadas, tanto na sociedade como no governo, que não se protegem e usam medicamentos inúteis contra a COVID-19 e que, ao mesmo tempo, se negam a receber o tratamento mais seguro que é a imunização através da vacina. É a mesma legião que difunde as fake news e nega a ciência. E é a própria sociedade que pagará um alto preço por essa ignorância coletiva. Por isso, ver tantos jovens arrastados pela irracionalidade e o negacionismo, foi o que fez com que um grupo de professores universitários saíssem de sua zona de conforto e dividir o seu tempo entre a pesquisa profissional e a divulgação científica. Sempre com a ideia de demonstrar que a ciência é a melhor ferramenta que temos para compreender o mundo. Esse, no fundo, é o objetivo do projeto “Verve científica“.

E para terminar, agradecer ao Dr. Eudes Eterno Fileti por sua amabilidade e disponibilidade. Foi maravilhoso compartilhar com ele estes minutos falando sobre a ciência no Brasil. Convido a todos a visitar o projeto “Verve científica“, tanto se você é aluno ou professor, porque é ameno, divertido e muito, muito instrutivo.

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