“Samba que elas querem”

"Samba que elas querem" é um grupo formado por oito musicistas, sambistas, que atuam na cena do samba de roda carioca.

Esta entrega de “O samba da minha terra” traz uma entrevista a Mariana Solis e Júlia Ribeiro, integrantes do “Samba que elas querem”, um grupo de samba de roda formado exclusivamente por mulheres.

E elas se definem assim:

Lugar de mulher é onde ela quiser! E como Clementina [de Jesus] já dizia, ‘sai de baixo, senão eu vou passar por cima’! Nós queremos SAMBA. Queremos cantar forte, quebrar tudo nos tambores, tamborins e pandeiros, chorar a viola e o cavaco para saudar todas as tias Suricas, Ciatas, Ivones, Elzas, Claras, Beths, Lecis e Jovelinas.

“Samba que elas querem”

Aí está, claramente uma declaração de intenções, um manifesto, uma reivindicação do lugar, da escolha, livre, da mulher no cenário do samba carioca.

A formação do grupo aconteceu em 2017. Todas elas já atuavam em outros grupos, mas sentiram a necessidade de criar uma formação que realmente permitisse o protagonismo das mulheres como instrumentistas e não somente como intérpretes. Atualmente, o grupo conta com oito musicistas: Angélica Marino (tan-tan), Bárbara Fernandes (violão de 6 cordas), Cecília Cruz (cavaco), Giselle Sorriso (surdo), Karina Neves (flauta e percussão), Silvia Duffrayer (cantora e percussionista, pandeiro), Júlia Ribeiro (cantora, compositora e percussionista) e Mariana Solis (cantora e percussionista, caixa de guerra e agogô).

E a pergunta que não poderia faltar: como elas veem enfrentando este contexto de pandemia. No atual contexto de pandemia, “Samba que elas querem” vem investindo nas composições autorais, além de terem ido para o estúdio para gravar a primeira composição autoral do grupo, a música “Menino Miguel”, que fala sobre a tragédia ocorrida no ano passado no Recife. E a cereja do bolo: Júlia Ribeiro e Karina Neves participaram de um concurso de composições autorais, e venceram com a música “Partido inconsciente”, que ainda será lançada neste mês de abril.

Perguntei a elas sobre a escolha do repertório e se havia composições autorais. E sobre isso, ainda que prevaleçam as composições de outros músicos em estilos de samba partido alto, ijexá, pagode, há um movimento forte no sentido de dar visibilidade às composições de outras sambistas mulheres, assim como incluir composições autorais de integrantes do grupo.

A primeira música que gravaram chama-se “Levanta povo”, uma composição original de Iara Ferreira e Iasmim Alves, lançada em 2019.

Na segunda parte da entrevista, Mariana Solis e Júlia Ribeiro falam um pouco mais sobre o papel das mulheres no samba: as tias, onde em suas casas, nos terreiros, se organizava o samba, as pastoras que, em coro, participavam também da cantoria, chegando até a segunda metade do século XX, quando as mulheres começaram a ter poder ocupar outros lugares, como o de compositoras, de letra e melodia, como Dona Ivone Lara, Beth Carvalho e Leci Brandão, para citar alguns exemplos. Júlia Ribeiro destaca a importância da visibilidade das mulheres, não só como musas, mas também de que elas possam ocupar também aqueles lugares tradicionais do samba e da boemia carioca.

Mariana Solis comenta sobre a escassa presença de mulheres em atividades como puxadoras das escolas de samba, ainda que, sim, estejam permitidas em tal atividade. E para quem não sabe, ser puxador ou puxadora de uma escola de samba é conduzir o samba enredo durante o desfile, junto com um grupo de cantores. Em relação à roda de samba falta ainda o reconhecimento do trabalho que as mulheres desempenham.

Muitas vezes, quando falamos de samba pensamos inevitavelmente no carnaval, no carnaval carioca das escolas de samba, do tradicional desfile na Sapucaí. Porém, como ficam as mulheres no samba de roda? Para as entrevistadas, o samba de roda e o samba carnavalesco carioca dialogam, pelo menos na experiência do grupo “Samba que elas querem”, que incluí também no repertório o samba carnavalesco.

Como referências de mulheres no samba, Mariana Solis e Júlia Ribeiro recomendam a escuta de Marina Íris (cantora e compositora), e do grupo Moça prosa, uma referência para elas. Entre as referências mais antigas, Leci Brandão, Dona Ivone Lara, Elza Soares, entre muitas outras.

Quer conhecer mais sobre o grupo “Samba que elas querem“? Anota aí: Instagram, YouTube y Facebook.

E para fechar o programa, a música “Levanta povo”, gravada em janeiro de 2020, a primeira gravação do grupo, uma composição original de Iara Ferreira e Iasmim Alves, na versão do grupo “Samba que elas querem”.

Agradecemos enormemente a Mariana Solis e Júlia Ribeiro pela oportunidade dessa entrevista e de conhecer um pouco mais do grupo “Samba que elas querem”.

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