Com esta emissão do BMQS, concluímos o ciclo de entrevistas dedicadas aos fotógrafos selecionados pelo programa de Residência Artística de Fotografia do CEB para 2025. Foram quatro episódios — cada um mais apaixonante que o anterior — nos quais conhecemos os novos projetos e artistas que atuarão no Palácio de Maldonado ao longo do ano.
Neste podcast, entrevistamos Marcos Sanchez, que fala sobre seu trabalho “Movimento steampunk brasileiro”, no qual o fotógrafo captura a essência da SteamCon Brasil, uma convenção de steampunk realizada na charmosa vila de Paranapiacaba, no estado de São Paulo. Steampunk… no Brasil? Pois é! Um país onde a imaginação não precisa de passaporte, o vapor se mistura ao calor tropical, à literatura especulativa e a uma estética que combina mecanismos, corpetes, engrenagens e muita criatividade — tudo isso refletido magistralmente nos retratos de Marcos.
Acomode-se em seu dirigível, ajuste os fones de cobre e prepare-se para descobrir o “vapor tropical”.
Sobre Marcos Sanchez

As raízes espanholas de Marcos Sanchez marcam presença em seu sobrenome, herdado de avós originários de uma vila em Cáceres, que emigraram para o Brasil no início do século XX. Engenheiro eletrônico de formação, ele descobriu a fotografia como meio de ilustrar suas viagens. Em 2018 comprou sua primeira câmera digital e entrou para o Fotoclube ABCClick, onde começou a trocar experiências. Com o tempo ganhou confiança e passou a participar de salões internacionais de fotografia. Em 2019, tornou-se presidente do Fotoclube ABCClick — presente em diversos estados brasileiros — e, desde 2025, é também diretor de fotografia da Confederação Brasileira de Fotografia (Confoto).
Suas fotos circulam em bancos de imagens e estão em galerias de arte, mas, para Marcos, a fotografia vai além do sustento: é caminho para novas amizades, conversas com pessoas afins, aprendizado e, claro, saídas fotográficas por uma São Paulo vibrante!
Por meio do Fotoclube ABCclick aos poucos, Marcos se envolveu com concursos — “um verdadeiro vício”, segundo ele —, onde a fotografia se valoriza. “Parece que podemos tocar o coração de alguém com nossa imagem”, diz. Ele ressalta que elogios da família e curtidas no Instagram são ótimos, mas
“receber uma medalha ou um convite para expor do outro lado do oceano faz você perceber que chegou onde nunca imaginou”.
Marcos Sanchez
Esta é a segunda vez que seu trabalho é selecionado pelo programa de Residência Artística do CEB — a primeira foi em 2019, com um ensaio sobre cidades coloniais brasileiras — cujo catálogo está disponível gratuitamente.
Steam... quê?
O que é, afinal, o steampunk? Marcos explica que é um subgênero da ficção científica, inspirado em escritores do século XIX (como Jules Verne, Conan Doyle, H. G. Wells ou Charles Dickens), que imaginavam como seria a tecnologia da época com os recursos disponíveis então. No final do século XX, autores revisitavam esse universo, especulando sobre essas possibilidades nos dias atuais. Computadores de madeira e aviões a vapor seriam exemplos de tecnologia steampunk — e “steam” vem do inglês “vapor”, referência à fonte energética predominante nesse universo retrô.
Para aprender mais sobre steampunk, ele recomenda a entrevista com a escritora brasileira Nikelen Witter e o podcast que dedicamos à literatura “punk” brasileira.
A SteamCom Brasil: o movimento punk brasileir
Sobre as fotos do projeto “Movimento Steampunk Brasileiro”, feitas em edições da SteamCon Brasil, Marcos destaca os trajes: não se trata de cosplay japonês, mas de personagens originais que evoluem a cada edição, ganhando mais detalhes e histórias próprias. Há “tribos” representadas — inventores com óculos de soldador “marca registrada dos steampunks”, mulheres de corpetes, piratas, médicos da peste negra e até assassinos ao estilo Assassin’s Creed — todos “sem violência, é quase uma brincadeira entre os participantes”.
Marcos descobriu o steampunk por acaso em 2014, ao ver um folheto sobre um encontro em Paranapiacaba — vila serrana perfeita para esse gênero, com maquinário de ferro abandonado e atmosfera pós-industrial. Nas primeiras fotos, ele registrou cenas “roubadas” — sem contato — em plena rua. Ao compartilhar nas redes, alguns participantes se reconheceram e o convidaram para as edições seguintes. No segundo ano, já sem timidez, Marcos pôde escolher os personagens que queria fotografar, resultando em imagens incríveis capturadas com luz natural e até com a neblina do local — um elemento que “tornou tudo ainda mais interessante”.

Com o tempo, formou-se um hábito de sair com os participantes pela vila em busca dos melhores cenários. A convenção cresceu, trouxe mais público e um número maior de fotógrafos como Marcos. Hoje, graças às redes sociais, diferentes comunidades de steampunk se conectam, e curiosos passam a conhecer esse universo fascinante — “fogo na caldeira!”, como ele finaliza.
Música no programa
O CEB promove desde 2014 uma chamada anual para projetos de Residência Artística de Fotografia, aberta a coletivos ou artistas individuais maiores de 18 anos — que oferece espaços para iniciativas culturais que promovam a cultura brasileira na Espanha. Saiba mais sobre o programa aqui.