BioBrasil: Miguel Vita dos Santos

Conversamos com o vencedor da sétima edição do concurso de conto breve do CEB.

Recentemente, foi publicado o resultado da 7ª edição do concurso de conto breve do CEB, “Cuéntame un cuento”, dedicado ao universo do samba brasileiro.

O conto vencedor foi “Uma tradição muito oral do samba no subúrbio carioca”, de Miguel Vita dos Santos, uma narrativa emocionante sobre como a magia da composição faz cócegas, literalmente, nos lábios. É possível transmitir talento com um beijo? A música pode nos redimir de nossos pecados? Com um estilo próximo ao realismo mágico, Miguel nos conduz por uma história de violência, paixão e, acima de tudo, muito samba.

O conto será publicado em formato digital, juntamente com o segundo colocado e os 10 finalistas, pela Ediciones Universidad de Salamanca. Enquanto isso, nesta edição do BMQS, trazemos uma entrevista com o autor de “Uma tradição muito oral do samba no subúrbio carioca”: Miguel Vita dos Santos.

Conhecendo Miguel Vita dos Santos

Natural da zona norte do Rio de Janeiro, o jovem Miguel Vita dos Santos tem apenas 23 anos e está concluindo sua graduação em Ciências Econômicas na Universidade Federal Fluminense (UFF, Brasil). Apesar do caráter técnico do curso que escolheu, sempre teve uma grande paixão pela literatura. Na verdade, seus professores não hesitaram em elogiar seu potencial, incentivando-o a continuar escrevendo.

Ele nos conta que nunca publicou um livro até agora e que “Uma tradição muito oral do samba no subúrbio carioca” será sua primeira contribuição para uma antologia literária. Nos últimos anos, participou de diversos concursos de contos e microcontos, tendo, inclusive, um de seus textos selecionado como semifinalista no concurso organizado pela prefeitura de Toledo, no estado do Paraná, entre outros reconhecimentos.

Atualmente, Miguel está dando os retoques finais em um conjunto de histórias que pretende publicar em seu primeiro livro solo, composto por contos interligados por temas, personagens e cenários. Além disso, ele também é compositor de canções autorais, que cria ao som de seu violão, tentando conciliar essa segunda paixão, a música, com a escrita e sua vida acadêmica e profissional.

Quando perguntamos sobre suas influências, Miguel Vita dos Santos não hesita: sua principal fonte de inspiração é Machado de Assis, tanto em seus romances quanto em seus contos. Para ele, o autor de “O Alienista” tem a capacidade única de criar tensão narrativa e sempre deixar o leitor de boca aberta.

Fora do Brasil, Miguel menciona Gabriel García Márquez e Jorge Luis Borges (realismo mágico em estado puro). Na verdade, ele confessa que há muito dos dois em suas histórias, quase como uma homenagem aos seus escritores favoritos. E isso não acontece por acaso:

Tento deixar que [a influência desses escritores] transpareça de certa forma (...). É algo premeditado, mas ao mesmo tempo natural, por conta da admiração que tenho por eles.

Seguindo a linha de Borges e de seu conto favorito, “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, Miguel se permite inserir elementos fantásticos em suas narrativas, que surgem suavemente no meio da (dura) realidade. Esse recurso confere às suas histórias um toque fabuloso, levando o leitor a questionar verdades aparentemente inquestionáveis — exatamente como acontece em “Uma tradição muito oral do samba no subúrbio carioca”.

Na segunda parte da entrevista, perguntamos a Miguel Vita dos Santos sobre seu processo criativo. O que o leva a escrever? Ele nos conta que, para ele, a inspiração surge de maneira “sobrenatural”, como se as próprias musas sussurrassem em seu ouvido:

É algo quase mágico quando isso acontece, quando tudo se alinha e você sabe exatamente como imprimir seus sentimentos — o que estava pensando — de uma forma criativa, diferente e clara.

Mas, nem tudo é tão simples, pois, além dessa centelha inicial, por trás de todo trabalho, há também muita técnica. No fundo, escrever se assemelha muito a compor música, em que se brinca com as sequências de acordes dentro de um campo harmônico, de acordo com o que se deseja transmitir. O mesmo acontece com a palavra escrita. Um personagem com profundidade, um parágrafo bem pontuado, uma frase bem posicionada, a construção adequada do texto… Tudo isso se reflete no resultado final.

Ele também destaca a importância de realizar uma pesquisa meticulosa antes de escrever o conto, estudando cada aspecto do tema que será abordado.

Hoje em dia, quando vou escrever um conto, passo mais tempo pesquisando sobre cada elemento dentro dele do que escrevendo em si (...). Uma boa história precisa transportar o leitor para dentro dela, e isso só acontece se o autor também foi 'engolido' por ela.

“Uma tradição muito oral do samba no subúrbio carioca”

Na última parte da entrevista, perguntamos a Miguel Vita dos Santos como surgiu a ideia para seu conto vencedor.

Ele nos conta que a inspiração veio diretamente das diretrizes da sétima edição do concurso, que mencionavam a possibilidade de abordar personagens reais ligados ao samba. Foi assim que Beth Carvalho se tornou o eixo central de sua narrativa, o ponto de partida de toda a história.

Depois, concentrou-se nos personagens fictícios, que carregariam o peso narrativo, e assim nasceu o casal protagonista. Por fim, definiu o cenário, optando por retratar a zona norte do Rio de Janeiro, algo que faz frequentemente em seus trabalhos, dando protagonismo às ruas, bairros e recantos que conhece tão bem.

O toque especial, claro, veio da pincelada fantástica que permeia toda a história, dando-lhe um sabor único. Essa combinação de elementos fantásticos, protagonismo feminino, abuso de poder, diferentes formas de violência e, acima de tudo, a magia da composição musical, resultou no conto que, em breve, poderemos ler pela Ediciones Universidad de Salamanca.

E que conselho dar aos autores que desejam participar da oitava edição do Concurso de Conto Breve do CEB? Pois bem, deem asas à imaginação, permitam que as ideias que surgem espontaneamente na mente, de forma imprecisa, se concretizem.

É interessante, por exemplo, fazer um brainstorm com pessoas do seu círculo, pensar em diferentes formatos, distintas maneiras de contar a mesma história e sempre fazê-lo com suas próprias palavras…

Vocês se animam a participar? O tema deste ano é o 475º aniversário da fundação da cidade de Salvador da Bahia.

Por via das dúvidas, deixamos aqui o regulamento!

BioBrasil é uma coluna do programa Brasil es mucho más que samba dedicada a divulgar a biografia de expertos, profissionais e personagens (históricos e atuais) da vida cultural, política e social brasileira. Brasil es mucho más que samba se emite todas às terças-feiras, às 17h30, em Rádio USAL. Para sugerir uma pauta ou contatar com a equipe do programa, escreva ao masquesamba@usal.es

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