BioBrasil: entrevista com Larissa Brasil

BMQS presta uma homenagem à Noite de Halloween com uma entrevista com Larissa Brasil, mestra do suspense e do terror psicológico.

A emissão de BMQS de 31 de outubro presta uma homenagem ao Halloween, a noite mais terrorífica do ano, uma noite quando o véu que separa o mundo dos vivos e o mundo dos mortos é mais fino que nunca. E como companhia nesta data singular, contamos com a participação de uma escritora brasileira que sabe o que é provocar escalafrios e que se vale de nossos medos mais atávicos para mover consciências. Trata-se de Larissa Brasil, de quem já falamos brevemente num programa anterior dedicado a quatro escritoras brasileiras de terror e suspense.

A inspiração de Larissa Brasil tem suas raízes no rico folclore brasileiro, en histórias susurradas pelas avós a seus netos e netas nas noites de tempestade, enquanto do lado de fora ressoa o trovão e o céu parece que vai desabar sobre nossas cabeças. Vencedora em várias ocasiões do famoso Prêmio Aberst, Larissa Brasil é autora de um dos relatos mais inquietantes dos últimos tempos e neste podcast vamos conhecê-la melhor.

As raízes de Larissa Brasil

Foto: larissabrasil.com.br

Larissa Brasil vive em Goiânia, capital do estado de Goiás, no centro-este do Brasil, com o marido e sua cadela bulldog. Começou a escrever na adolescência, mas abandonou as historias em seus cadernos escolares. Somente retomou a escrita em 2012, depois de passar por uma depressão, como forma para expressar todas as emoções e sentimentos obscuros que lhe embargavam. A partir daí, começou a escrever contos de suspense, mesmo que só começou a publicá-los em 2018. O primeiro texto lançado foi “O conto do coronel fantasma”, baseado numa história que a avó lhe contava sobre um certo bicho-papão (hombre del saco, em espanhol) do interior da Bahia. Com este conto venceu o Prêmio Aberst de literatura de 2018  na categoria de melhor relato de terror. E assim não pôde mais deixar de escrever. Na bagagem tem seis livros, dois deles suspense policial: Urutau e Irebu, que acaba de ser premiado con o Odisseia de Literatura Fantástica. Ambos compartilham a protagonista, a inspetora Nanda Noronha e incluem elementos do folclore de Goiás, como festas religiosas e crenças ancestrais populares.

Entre suas fontes de inspiração, encontramos a coleção Vagalume, uma série de livros para o público juvenil, com histórias de aventuras cheias de suspense. Também há espaço para o quadrinhos de Sandman e Batman, devorados durante a adolescência. Foi nessa época que começou a crescer o gosto pelas atmosferas sombrias e intrigantes. Já na fase adulta, mergulhou na obra de escritores como Shirley Jackson, autora do afamado romance A maldição da Residência Hill e Neil Gaiman, autor de O oceano no fim do caminho. E para não dizer que não lê um pouco de tudo, a nossa entrevistada admite ser fã de Jane Austen e da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles.

Como gestar um relato de suspense e não perder a cabeça

Sobre o processo criativo, Larissa Brasil diz precisar visualizar toda a história logo de início e que, por isso, trabalha não só com cenas concretas mas com os tempos narrativos, com os diferentes “atos” nos quais a história se desenvolve. Quando tem a imagem completa, para nos pontos de inflexão da trama e traça com eles uma linha temporal que vai sendo preenchida aos poucos. Outra tarefa à qual dedica muito tempo é na criação de todos os personagens, protagonistas e secundarios que, no caso, no se limitam a ajudar o herói principal, mas que têm vida própria.

Ainda que pareça sistemática e meticulosa, Larissa confessa que sempre acaba mudando coisas, sobretudo nos finais dos relatos, em busca dessa virada inesperada, dessa surpresa incrível que deixa o leitor de boca aberta.

Larissa também confessa que adora escrever relatos policiais e que é apaixonada pelo realismo mágico, gênero no qual encontramos dois de seus trabalhos Tr3s, que escreveu em colaboração com Larissa Prado, e Onde o vento faz a curva, uma antologia de 7 contos relacionados entre si, que se passam numa pequena cidade do interior chamada Campo das Flores, na qual o vento é o fio condutor de todas as histórias.

Se você gosta de suspense psicológico, Larissa Brasil recomenda o título A garota da casa da colina, que conta a história de uma boxeadora que volta a casa e descobre que seu pior inimigo é seu avô já falecido e Uma oração para ninguém, sobre uma escritora de suspense que viaja até uma praia (quase) deserta para escrever seu novo livro e lá acaba sendo testemunha de uma assassinato.

Folclore brasileiro como fonte de inspiração

Muitos dos trabalhos de Larissa Brasil como Irebu e Onde o vento faz a curva incluem uma boa dose do rico e variado folclore brasileiro, do qual em BMQS somos fãs, confere só em outro programa. Larissa Brasil admite que a maior parte de seu referente folclórico vem do interior da Bahia e dos povos originários, além de outras crenças e folclore de todo o país. Para ela, a literatura é uma ferramenta maravilhosa para que pessoas de outros países conheçam a autêntica cultura brasileira: um rico mosaico que forma uma única imagem, que é o Brasil.

Um detalhe importante: o uso da primeira pessoa en seus relatos é um excelente recurso para conseguir essa aproximação com o leitor, para transmitir as emoções dos personagens. Também o recurso aos monstros cotidianos, às vezes mais aterradores do que qualquer criatura que possa surgir da mente de um escritor. Porque, no fundo, os abismos insondáveis são os da alma humana… 

Suspense em feminino

Já no final da entrevista, Larissa Brasil afirma que ser escritora no Brasil é “lutar dia a dia para ser lida”, especialmente, se você escreve suspense ou romance policial. Há muito preconceito e muitas dúvidas sobre se uma mulher é capaz de criar histórias tão sombrias como um homem. As autoras brasileiras ainda têm que demonstrar constantemente do que são capazes de fazer. Como efeito colateral, Larissa nos confia que, hoje em dia, o seu público leitor continua sendo de maioria feminino, pois os leitores masculinos se resistem em cair em suas garras.

Mas, Larissa Brasil também conta que as mulheres estão mudando o gênero, incluindo elementos pessonais, como detetives com vida pessoal, que têm relações sexuais e familiares… As mulheres começam a aparecer como protagonistas de romances de suspense não como vítimas, mas “investigando os monstros ou sendo elas mesmas seu próprio monstro”.

Por sorte já encontramos muitas autoras que têm seus lugares nas estantes das livrarias, como Paula Febbe, uma mestre do terror e Larissa Prado, coautora da nossa entrevistada. No thriller destaca Cláudia Lemes e a veterana Patrícia Melo com um longo currículo, que inclui prêmios como o Jabuti (2001) e adaptações para o cinema e televisão.

Agradecemos a Larissa Brasil pela entrevista e a companhia nesta noite de Halloween, cheia de sustos e mistérios.

Música no programa

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