O samba da minha terra: entrevista Adriana Araujo

Esta entrega traz uma entrevista a Adriana Araujo, considerada uma da mais potentes entre as novas vozes femininas do samba.

Nesta emissão de “O samba da minha terra”, apresentamos Adriana Araujo, uma das mais promissoras entre as novas vozes femininas do samba no Brasil.

Adriana Araujo é natural de Minas Gerais, de uma comunidade chamada Pedreira Prado Lopes, na região de Lagoinha, próxima a Belo Horizonte, a capital de Minas Gerais. Pedreira Prado Lopes é conhecida como o berço do samba em Belo Horizonte, além de ter sido a primeira favela da cidade, que começou a ser ocupada no início do século XX, por trabalhadores que migraram de diferentes partes de Minas e do Brasil para construir Belo Horizonte (Nascimento, Oliveira et al., 2018). Aquela era a época das grandes reformas urbanísticas por todo o país, entre as mais afamadas, a do Rio de Janeiro, que se, por um lado, tinha pretensões sanitaristas, por outro segregou a população mais pobre às encostas dos morros, dando origem às favelas.

E falando de favela, uma das músicas do primeiro disco de Adriana Araujo, Minha verdade, que vem com força total é a segunda pista, que se chama “Becos e vielas”, uma composição original de Evandro Mello, que os versos dizem assim:

Morro
Lugar melhor não há pra se viver
Em um deles nasci fui criado
Hoje sou muito bem respeitado, favela
Não é só reduto de marginais, teus habitantes
Incessantes na luta por mais um dia de paz
É lá que o samba escolheu pra morar
Tradição do país, faz o mundo sambar
Teus becos e vielas, comportam talentos
Falta reconhecimento
Dessa gente que só vê o que convém
Enquanto esperamos com fé em um canto calados
Os humildes serão exaltados
Quando chegar nossa vez, não vai ter pra ninguém

Essa música “Becos e vielas” dá bem o tom do disco: um conjunto de músicas com muito ritmo e cheias de traços de identidade.

A gente costuma dizer que o samba nasceu na Bahia e se carnavalizou no Rio de Janeiro, mas como é o samba em Minas Gerias? Sobre isso, Adriana Araujo afirma que o cenário do samba em Belo Horizonte, também em Minas, é muito forte, porém necessita mais espaços para mostrar seus artistas e composições. Ainda assim, a nossa entrevista chama a atenção para algo muito importante: estamos tão acostumados a associar o samba ao Rio, que muitas vezes esquecemos que há samba em outros estados.

Para Adriana Araujo, o samba sempre foi uma referência muito presente em sua vida, porém foi somente já adulta quando ela começou a frequentar as rodas de samba na companhia do marido que, na época, tinha um grupo de samba. Daí para a profissionalização foi um pulo! Sobre isso, Adriana nos conta:

Mas, eu sempre gostei de música, eu sempre gostei de cantar, e apesar de que as minhas referências, primeiramente, eram MPB, mas do samba não tem como fugir. O samba está enraizado em mim, ele está na minha veia, é da minha ancestralidade, dos meus ancestrais. A gente até tenta ir para outros gêneros musicais, mas a gente acaba voltando para as nossas raízes, e quem me resgatou e que me trouxe para o samba foi o meu marido, onde estou até hoje e pretendo ficar até quando Deus quiser.

Adriana Araujo começou a carreira profissional cantando em um grupo de samba. O salto à carreira solo não foi fácil: seu lançamento foi a poucos dias do decreto, no Brasil, de lockdown, durante o primeiro ano de pandemia. Surpresas da vida, como o famoso “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, no caso, Adriana Araujo aproveitou a situação para usar as redes sociais para divulgar o seu trabalho. E cá pra nós, é um presente para a gente nessas bandas de cá poder curtir música boa.

Na última parte da entrevista, falamos sobre o disco Minha verdade, o seu primeiro trabalho em carreira solo. O disco já vinha sendo trabalhado (e sonhado!) desde 2017. O repertório foi selecionado entre as composições que receberam de artistas locais e, segundo Adriana Araujo, foi um processo difícil, porque “é até doloroso fazer seleção de repertório, porque é cada canção mais linda do que a outra, mais emocionante, e a gente ter que selecionar entre várias canções e tirar somente doze, é muito doloroso”. A única música do disco que é uma composição sua, em colaboração com Alexis Martins, se chama “Vibração”, que é também a música que abre o disco. Os últimos versos dizem assim:

Do desafio eu não fujo, sou Adriana Araújo
O lema agora é só curtição
Eu vou cantar, contagiar seu coração

Com o coração contagiado por uma voz tão potente, deixamos aqui abaixo o podcast para quem quiser escutar a entrevista completa.

Adriana Araujo

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Instagram: @adrianaaraujooficiall

Imagem: Página web oficial.

Referências:

Nascimento, A. e Oliveira, A. C. de, et al. (2018). As tessituras da memória e a construção imaginária do espaço: história oral e patrimônio na Pedreira Prado Lopes. 10º Mestres e Conselheiros. Recuperado de [https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Pedreira_Prado_Lopes]. Consultado 30 de janeiro de 2022.

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