Esta é a primeira entrega de “O samba da minha terra”, uma coluna do programa Brasil es mucho más que samba, um espaço de encontro com a cultura brasileira, com as histórias do samba, seu universo e protagonistas. O nome da coluna está inspirado na música homônima, de autoria de Dorival Caymmi, gravada inicialmente no disco Eu vou p’ra Maracangalha, de 1957.
O espetáculo "Aquarela do Brasil"
Na sexta-feira, 16 de setembro, e como parte das atividades programadas para a celebração do bicentenário da Independência do Brasil, Edimundo Santos, David Tavares e Carlos Mankuzo atuaram com o projeto musical “Aquarela do Brasil”, no teatro Juan del Enzina, da Universidade de Salamanca. O espetáculo é um passeio pela história da música brasileira, oferecendo ao público espanhol – e, claro, a todos os brasileiros e brasileiras que ali estavam – exemplos de sonoridades e influências decisivas na música brasileira. Se é verdade que Brasil es mucho más que samba, é porque além de samba, é bossa, é maracatu, é chorinho, é caboclinho, é música clássica também – não podemos esquecer o mestre Heitor Villa-Lobos, além de muitos outros.
Edimundo Santos, idealizador do projeto musical “Aquarela do Brasil” conta na entrevista que o espetáculo
tem como principal objetivo levar ao conhecimento do público espanhol, ainda que de forma sucinta, um pouco da história da música brasileira. Uma música tão miscigenada quanto o povo que constitui aquela nação e, aproveitando a comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil, achamos ser oportuno criar um show em homenagem a essa data importante. O repertório que constitui o espetáculo está baseado no caboclinho, a música indígena; a modinha Imperial, levada pelo rei Dom João XVI ao Brasil; e a música negra. Foi essa mistura que deu nos diferentes ritmos da música brasileira, como o frevo, o maracatu, o baião, o boi, a capoeira, o samba, e não esquecemos também a música da Amazônia, a música feita pelo grande compositor Valdemar Henrique, a música erudita de Villa-Lobos e Carlos Gomes. E vamos encerrar [o espetáculo] com o samba enredo e, obviamente, com a bossa nova, a música mais internacional do Brasil.
Edimundo Santos
Os músicos
Edimundo Santos é cantor, compositor, guitarrista, letrista e arranjador. Vive em Madri desde 2007, e entre os seus trabalhos mais relevantes estão a homenagem ao centenário de Vinícius de Moraes, organizado a convite da Embaixada do Brasil em Madri, e da Fundación Cultural Hispano-Brasileña. Também convidado pela companhia de teatro Teatro de fondo, de Madri, dirigiu a peça “A ópera do malandro”, de Chico Buarque. O seu último disco, gravado em Madri, em 2020, se chama Todo silêncio. E foi justamente com o lançamento desse disco que Edimundo Santos decidiu abandonar o nome artístico que usava até então, Pedro Moreno.
Facebook; @edimundo_santos.
David Tavares, gaúcho, compositor e violonista, é veterano aqui na Radio USAL. Em 2014, tivemos a oportunidade de entrevistá-lo pela primeira vez, quando falamos sobre flamenco com sotaque brasileiro. Ele chegou na Espanha em 1987 para estudar violão flamenco. Porém, antes, no Brasil, ele já havia estudado no Conservatório de Música Clássica e no Conservatório Villa-Lobos, de Curitiba (Paraná). Ainda que seja uma referência na música flamenca, David Tavares nunca deixou de tocar música brasileira, daí que em parceria com Edimundo Santos e Carlos Mankuzo, participe nesse “Aquarela do Brasil”. No programa, escutamos uma composição sua, a música “Sambalacho”, gravada no disco Un toque de color.
Na segunda parte da entrevista com David Tavares, ele fala sobre a recepção da música brasileira na Espanha. Para ele, a música brasileira se mistura com o jazz, com os estilos de músicas do mundo, mas o que toca nas principais emissoras são só sucessos comerciais. Vocês se lembram do “Ai se eu te pego”? Tá aí um bom exemplo.
Carlos Mankuzo é instrumentista, natural de Paudalho, da Zona da Mata de Pernambuco, e fecha o trio de “Aquarela do Brasil”. Responsável pela percussão, Carlos Mankuzo oferece no espetáculo uma atuação como poucos! No vídeo abaixo, veja como ele arrancou aplausos entusiasmados do público:
Carlos Alberto, mais conhecido como Mankuzo, veio para a Espanha ainda bem jovem, contando 22 anos. Começo a tocar em grupos de batucada, nas fiestas de los pueblos, e pouco a pouco, foi entrando no cenário musical, fechando parceria com outros músicos e intérpretes brasileiro, mas também nomes espoais como Nuria Fergó e José Luis Montón. Na entrevista, falamos sobre o “Aquarela do Brasil”, para ele, poder participar desse projeto musical é
um presente (...). Estou muito feliz, representando o Brasil, levando essa bandeira musical, que é superimportante que conheçam o outro lado da música brasileira.
Carlos Mankuzo
Também é de 2014 a primeira entrevista com Carlos Mankuzo aqui na Rádio USAL, quando falamos sobre a trajetória dele como músico aqui na Espanha. Dessa segunda vez, e falando sobre a recepção da música brasileira no país, Mankuzo diz que como a música brasileira é muito apreciada por ser tão rica em ritmos e estilos. Além disso, para ele, há muito respeito e admiração pelos músicos brasileiros tanto aqui na Espanha como na Europa, em geral.
A música brasileira é muito rica em harmonia e ritmos. Então, as pessoas ficam encantadas com a nossa cultura, e eu feliz de poder levar a música brasileira a vários países e cidades. Estou muito feliz de participar desse projeto, essa viagem pela história da música brasileira, com esses dois grandes músicos.
Carlos Mankuzo
Obrigada Edimundo, David e Mankuzo pela entrevista e por esse passeio pela história da música brasileira! E como escreveu o maestro Ary Barroso: “Esse Brasil lindo e trigueiro é o meu Brasil brasileiro”.
Brasil es mucho más que samba é um programa do Centro de Estudos Brasileiros, que está no ar desde 2007 na Rádio Universidad de Salamanca, todas às terças-feiras, às 17:30 horas (hora local). Para escutar o programa fora de Salamanca, conecte-se através de radio.usal.es