Nesta edição de O samba da minha terra, falamos sobre a recente vitória da escola de samba Beija-Flor no maior carnaval do mundo: os desfiles na Sapucaí, onde competem as escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro.
Conhecida como A Deusa da Passarela ou Maravilhosa e Soberana, neste ano a Beija-Flor apresentou o enredo Laíla de todos os Santos, Laíla de todos os Sambas, uma homenagem a Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, carnavalesco da escola, falecido por COVID-19 em 2021. Além disso, o desfile também foi marcado pela despedida de Neguinho da Beija-Flor, um dos grandes intérpretes do samba carioca.
A escola de samba Beija-Flor é uma das agremiações mais tradicionais do carnaval do Rio de Janeiro. Fundada em 1948, conquistou 15 títulos ao longo de sua história. Surgiu no município de Nilópolis, na região metropolitana do Rio de Janeiro, e se consolidou no Grupo Especial na década de 1970 sob a direção de Joãozinho Trinta, um grande artista plástico e carnavalesco brasileiro.
Entre 1976 e 1992, a escola adotou uma abordagem revolucionária, introduzindo desfiles grandiosos e temáticas inovadoras que romperam com as tradições do samba carnavalesco. De fato, conquistou o tricampeonato entre 1976 e 1978 e voltou a vencer em 1980 e 1983. A Beija-Flor é reconhecida por sua cenografia espetacular, com carros alegóricos de grande porte e fantasias elaboradas que deslumbram o público e os jurados. Seu perfeccionismo transformou seus desfiles em verdadeiras obras de arte em movimento, ainda que com alguns incidentes, como o princípio de incêndio em um dos carros alegóricos durante o desfile de 2023.
Outra característica marcante da escola é seu compromisso com temas sociais e políticos. Ao longo dos anos, abordou questões como desigualdade, racismo e identidade cultural brasileira, transformando o desfile em uma plataforma de conscientização e reflexão. Um exemplo disso é o samba-enredo Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia (1989), carregado de crítica social e centrado na relação entre luxo e lixo (o luxo e o lixo). A polêmica desse desfile surgiu quando a justiça do Rio de Janeiro aceitou o pedido da Diocese para proibir um carro alegórico que trazia uma reprodução do Cristo Redentor vestido com trapos. Laíla, então diretor de carnaval, decidiu que a imagem desfilaria coberta com um plástico preto, onde se lia: Mesmo proibido, olhai por nós!
A Beija-Flor venceu 15 campeonatos do Carnaval do Rio de Janeiro, consolidando-se como uma das escolas de maior sucesso. Seu primeiro título veio em 1976 e, desde então, repetiu o feito em 1998 (O Mundo Místico dos Caruanas nas Águas do Patu-Anu), 2003-2005, 2007, 2008, 2011, 2015, 2018 e agora em 2025.
Além de seu impacto no carnaval, a Beija-Flor desempenha um papel crucial em sua comunidade, oferecendo oportunidades para jovens talentos na música, na dança e na produção artística. Através de programas de inclusão social e educação cultural, demonstrou que o samba é mais do que uma expressão artística: é uma ferramenta de transformação social. No site da escola, é possível encontrar detalhes sobre seus projetos sociais, que incluem uma creche para crianças de 6 meses a 6 anos (atualmente com 276 inscritos), o Educandário (uma escola com mais de 900 estudantes entre 6 e 16 anos) e o Talentos da Beija, uma iniciativa que incentiva a prática esportiva e cultural entre os jovens da comunidade.
Após ter ficado em oitavo lugar em 2024, o enredo de 2025 da Beija-Flor foi centrado na vida e no legado de Laíla, uma figura fundamental na transformação da escola em uma potência do carnaval, que atuou por anos como diretor de carnaval e de harmonia. Sua visão inovadora e dedicação levaram a Beija-Flor a conquistar vários títulos, incluindo o tricampeonato de 1976 a 1978, ao lado de Joãozinho Trinta.
O desfile de 2025 celebrou sua trajetória, destacando momentos marcantes de sua carreira e sua influência na evolução do carnaval. Carros alegóricos e fantasias representaram sua infância no Morro do Salgueiro, sua passagem por diversas escolas de samba e seu legado na Beija-Flor.
Outro momento marcante do carnaval de 2025 foi a despedida de Neguinho da Beija-Flor, a voz da escola. Com 50 anos de trajetória na agremiação e 75 anos de idade, Neguinho se despede após ter contribuído para a conquista de 14 títulos. Sua voz potente e carisma foram decisivos para consolidar a Beija-Flor como uma das maiores do carnaval carioca.
O Carnaval de 2025 trouxe mudanças significativas nos desfiles da Sapucaí. A primeira foi no calendário: as escolas competiram ao longo de três dias, de 2 a 4 de março. A Beija-Flor desfilou no dia 3 de março, dividindo a noite com Unidos da Tijuca, Salgueiro e Vila Isabel. Uma das mudanças mais polêmicas esteve relacionada ao sistema de avaliação das escolas. Embora se pretendesse implementar um sistema de julgamento mais justo, várias escolas, entre elas a Grande Rio (segunda colocada), recorreram à Liesa, o órgão que regula a competição, alegando inconsistências em alguns critérios.
A vitória da Beija-Flor em 2025 não apenas acrescentou mais um título à sua ilustre história, mas também serviu como um merecido tributo a Laíla e uma despedida emocionante para Neguinho da Beija-Flor.
Neguinho da Beija-Flor
Luiz Antônio Feliciano Marcondes, mais conhecido como Neguinho da Beija-Flor, é uma figura icônica no mundo do samba brasileiro. Nascido em 29 de junho de 1949, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, dedicou mais de cinco décadas à música, destacando-se como intérprete principal da Beija-Flor de Nilópolis desde 1976. Chegou à escola em um momento de mudanças e grandes conquistas. Ao lado do carnavalesco Joãozinho Trinta, ajudou a garantir o tricampeonato entre 1976 e 1978. Entre suas composições mais famosas está O Campeão (Meu Time), provavelmente sua obra mais conhecida. Agora, aos 75 anos, Neguinho da Beija-Flor se retira da linha de frente de sua escola após ter assegurado o campeonato de 2025, despedindo-se em grande estilo.
Referências:
Neguinho da Beija-Flor. (2025, março 11). Wikipédia, a enciclopédia livre. Retrieved 03:04, março 11, 2025 from https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Neguinho_da_Beija-Flor&oldid=69709479.
Laíla. (2025, março 11). Wikipédia, a enciclopédia livre. Retrieved 03:50, março 11, 2025 from https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=La%C3%ADla&oldid=69709581.
Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia. (2024, novembro 8). Wikipédia, a enciclopédia livre. Retrieved 05:16, novembro 8, 2024 from https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ratos_e_Urubus,_Larguem_Minha_Fantasia&oldid=68960154.
