A última edição do BMQS foi dedicada a Miguel Vita dos Santos, autor de “Uma tradição muito oral do samba no subúrbio carioca”, conto vencedor da 7ª edição do concurso de conto do CEB. Neste podcast, trazemos uma entrevista com a autora que conquistou o segundo prêmio, Ariadne Costa Araújo, responsável pelo relato “Pombagira na avenida”.
A história é protagonizada por Selma, rainha de uma escola de samba que, no mesmo dia do desfile de carnaval, prestes a começar o espetáculo, descobre, incrédula, que é incapaz de ouvir qualquer som. Nenhuma voz, nenhum pandeiro, nem o menor ritmo que possa guiá-la em sua dança triunfal. Uma premonição, a magia da música, deuses antigos que reivindicam seu lugar… Dá para pedir mais?
O conto será publicado em formato eletrônico, junto com o vencedor e os 10 finalistas, pela Ediciones Universidad de Salamanca.
Conhecendo Ariadne Costa Araújo

Ariadne Costa Araújo formou-se em jornalismo na Universidade Federal do Ceará (UFC, Brasil). Nas últimas décadas, trabalhou como repórter especial para O Povo, jornal da cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, com o qual continua colaborando, escrevendo uma crônica semanal.
Seu desejo de se dedicar à literatura não pode ser separado de sua atuação como repórter, sempre voltada para um jornalismo de cunho literário. Sua primeira publicação fora do meio jornalístico foi a biografia Bárbara de Alencar (Demócrito Rocha, 2003), sobre a primeira presa política brasileira, detida por sua participação na Revolução Pernambucana de 1816, que buscava libertar o país do domínio português. Seu segundo trabalho, este em coautoria, foi Soldados da Borracha, os heróis esquecidos (Escrituras, 2016), que conta a história dos 55 mil homens enviados para o interior da selva amazônica para extrair látex natural, dentro do esforço de guerra dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Naquela época, Ariadne não pensava na escrita de ficção como um caminho a seguir, em meio à intensidade do trabalho diário como repórter. No entanto, a influência de autores como Gabriel García Márquez, Eduardo Galeano, Julio Cortázar, Juan Rulfo, José Saramago e o espanhol Gonzalo Torrente Ballester a convidaram – e ainda a inspiram – a explorar uma “escrita mais livre, mais imaginária (…) onde as pessoas e suas histórias são tão importantes quanto os fatos que vivem”.
Com esses grandes mestres como referência e o estímulo de diversos prêmios, nacionais e internacionais, reconhecendo seu trabalho como jornalista, Ariadne Araújo sentiu que um novo caminho se abria diante dela: “uma estrada que me chamava para uma nova aventura”.
Assim, realizou cursos de escrita criativa para entender como os grandes escritores constroem suas narrativas ficcionais e também para desenvolver seu próprio processo criativo. Descobriu, então, que o mundo, passado e presente, está cheio de histórias esperando para serem contadas. Basta
estar atento e curioso todos os dias ao que nos rodeia. Cada dia traz algo que nos encanta, que nos encontra: uma ideia, uma frase, um personagem, uma cena, um cenário, uma forma de andar ou de falar, um jeito de se vestir, até mesmo um penteado...
Ariadne Araújo
Tudo pode ser a semente de um bom conto ou de um excelente romance. Quanto à dinâmica que segue ao escrever, Ariadne nos confessa, na entrevista, que não tem nenhum ritual predefinido, embora prefira estar sozinha e em silêncio para se concentrar. Ela nos diz que o mais importante, acima de tudo, é demonstrar respeito pelas histórias “ao colocá-las no papel, mesmo que, naquele primeiro momento, não estejam finalizadas”.
Ela gosta de anotar cada ideia, cada fragmento, em cadernos e blocos de notas, para depois montar um quebra-cabeça com eles… ou não. Afinal, como bem diz nossa protagonista, “nem todas as histórias terminam”. De qualquer forma, as ideias são como plantas: precisam ser cuidadas, alimentadas diariamente, transformadas em companheiras constantes até que, “escritas em sua plenitude, nos abandonem e voem em direção aos leitores”.
“Pombagira na avenida”
Na segunda parte da entrevista, Ariadne Costa Araújo nos conta que escrever um conto com um tema específico é um excelente exercício de aprendizado. Ela já havia participado (e vencido) outros concursos com temas predefinidos e gostado da experiência.
O tema da última edição do concurso do CEB era o universo do samba, mas dentro desse vasto mundo, por onde começar? Ariadne fez seu primeiro recorte no personagem: deveria ser uma mulher apaixonada pelo samba e com aquele caráter mestiço tão próprio desse gênero musical. O ritmo, o corpo que se move sem querer, os pés que se deixam levar pela música… Assim nasceu “Pombagira na avenida”, com o desafio de prender o leitor do início ao fim em poucas páginas, como exige um bom conto.
Por isso, Selma, sua protagonista, precisava ser quase tangível. “Se eu acreditar nela, o leitor também acreditará”, pensou. E isso a obrigou a levar em conta… tudo! Desde a aparência física até o jeito de falar e se comportar, os possíveis hábitos, os medos, os traumas do passado…
Ariadne Araújo finaliza dizendo que este é o melhor conselho que pode dar a quem deseja se aventurar na escrita de ficção: construa bem seus personagens, pois sobre eles recai o peso de toda a história.
Caso vocês se animem a encarar o desafio da página em branco, já adianto que o tema da 8ª edição do concurso do CEB será o 475º aniversário da fundação da cidade de Salvador da Bahia. As regras podem ser consultadas aqui mesmo.
BioBrasil é uma coluna do programa Brasil es mucho más que samba dedicada a divulgar a biografia de expertos, profissionais e personagens (históricos e atuais) da vida cultural, política e social brasileira. Brasil es mucho más que samba se emite todas às terças-feiras, às 17h30, em Rádio USAL. Para sugerir uma pauta ou contatar com a equipe do programa, escreva ao masquesamba@usal.es