Mart’nália: samba, liberdade e alegria
Há artistas que parecem carregar o samba no corpo e na voz. Mart’nália é uma delas. Filha do cantor e compositor Martinho da Vila e de Anália Mendonça, a artista cresceu no bairro de Pilares, na zona norte do Rio de Janeiro, entre ensaios, rodas de samba e desfiles da Unidos de Vila Isabel. Desde cedo, respirou música e aprendeu que o samba é mais que um ritmo: é uma forma de viver.
Com 16 anos, começou profissionalmente como backing vocal do pai e, pouco depois, iniciou sua trajetória solo. Hoje, com mais de quatro décadas de carreira, 13 álbuns lançados e inúmeros prêmios, Mart’nália é uma das grandes vozes femininas do samba contemporâneo — e a protagonista do novo episódio da coluna “O samba da minha terra”, no programa Brasil es mucho más que samba.
Um pagode à sua maneira
O ponto de partida deste episódio é o disco mais recente da artista, Pagode da Mart’nália (2024). Produzido por Luiz Otávio, Marcia Alvarez e Marcus Preto, o álbum celebra os grandes sucessos do pagode da década de 1990. Todas as músicas reunidas no álbum foram reinterpretadas com leveza e balanço inconfundíveis. Entre os destaques está “Coração Radiante”, composição de Helinho do Salgueiro, Mauro Júnior e Xande de Pilares, eternizada pelo grupo Revelação e que aqui ganha um novo brilho na voz feminina de Mart’nália.
Sobre o disco, a artista declarou em entrevista à Rádio Nacional (EBC) que a ideia partiu de sua empresária e que, embora nunca tenha se considerado uma “pagodeira”, aceitou o desafio com alegria. O resultado é um álbum cheio de frescor, onde o samba encontra o pagode e a espontaneidade da artista se manifesta em cada batida.
Vinicius, Bethânia e o amor em canção
Outro momento marcante da carreira de Mart’nália foi o lançamento de Mart’nália canta Vinicius de Moraes (2019), produzido por Arthur Maia e Celso Fonseca e gravado pelo selo Biscoito Fino. O álbum rendeu à artista o Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba e Pagode e consolidou sua força interpretativa.
Nesse trabalho, Mart’nália revisita o universo poético de Vinicius com a leveza e o balanço característicos de sua trajetória. Em destaque, a emocionante parceria com Maria Bethânia na canção “Eu sei que vou te amar”, em que duas gerações se encontram em um diálogo musical terno e sofisticado.
África, palco e raízes
Mart’nália também levou o samba muito além do Brasil. Em 2010, ela lançou Mart’nália em África ao vivo, gravado durante uma turnê por Angola e Moçambique. O disco registra o reencontro do samba com suas raízes africanas e a energia contagiante dos palcos do outro lado do Atlântico.
No repertório, sucessos como “Cabide” (de Ana Carolina), que abre o álbum, ganham novas cores e ritmos em diálogo com os públicos africanos. O resultado é um registro vibrante, que reafirma o caráter universal e mestiço do samba brasileiro.
Madrugada e liberdade
Dois anos antes dessa viagem, Mart’nália havia lançado Madrugada (2008), um disco em que o samba se mistura com o pop e o soul. É um trabalho solar, de voz livre e humor leve, como a artista.
A faixa “Don’t Worry, Be Happy”, de Bobby McFerrin, encerra o álbum com uma versão cheia de percussão e alegria — uma verdadeira declaração de liberdade artística. Mart’nália transforma o clássico em um samba divertido, lembrando que o bom humor é parte essencial de sua arte.
O samba do povo
Para fechar o episódio, o programa traz “Boto meu povo na rua”, do disco Menino do Rio (2006), dirigido por Maria Bethânia. A canção é um retrato da força coletiva, da alegria e da resistência que permeiam toda a carreira de Mart’nália. Esse álbum marcou a consagração da artista, aproximando o samba da MPB e das novas gerações, sem perder a conexão com as ruas e as tradições.
O novo episódio de “O samba da minha terra” é uma homenagem a essa artista que continua abrindo caminhos para as mulheres no samba e na música brasileira.
O samba da minha terra é uma coluna dedicada ao samba do programa Brasil es mucho más que samba, emitido todas às terças-feiras, às 17h30, em Rádio USAL. Para sugerir uma pauta ou contatar com a equipe do programa, escreva ao masquesamba@usal.es