Durante três sextas-feiras seguidas, de 29 de abril a 13 de maio, o CEB, em colaboração com Brasil de Nações, oferecerá uma série de entrevistas on-line, nas quais a historiadora e crítica de arte Kalinca Costa Söderlund entrará na pesquisa e produção artística brasileira contemporânea, com o objetivo de demonstrar como a arte reflete e explora as questões mais apremiantes de um que enfrenta grandes desafios.
Da questão ecológica até as implicações no século XXI da acelerada urbanização no Brasil da era desenvolvimentistas; passando pelas peregrinações até as tribos autóctonas como uma forma de redenção dos dilemas identitários e subjetivos provocados pela lógica capitalista de uma realidade socioeconômica em desenvolvimento; até a luta por construir uma ordem sociopolítica mais juste e igualitária num país onde a virada à extrema direita exacerbou a assimetria social, a injustiça e a violência.
A arte será o marco através do qual estas questões serão abordadas, dado que os artistas têm uma forma poderosa de denunciar a realidade na qual vivem, e a cultura visual é parte integrante do momento histórico no qual se materializa.
As entrevistas

O ciclo começa na sexta-feira, 29 de abril, às 13h00 (hora local), com a entrevista de Kalinca Costa Söderlund a David Magila, artista de São Paulo com décadas de pesquisa e produção baseada na arquitetura brasileira e suas complexidades. A obra pictórica e escultórica de Magila indaga no processo de modernização do Brasil, centrando-se nas paisagens urbanas e em como seu caráter utópico se converteu em distopia. A fragilidade do urbanismo desenvolvimentista, o fracasso das políticas inclusivas em diversas áreas e o crescimento demográfico, entre outros fatores, acabaram gerando aberrações na paisagem social e natural do Brasil, com um profundo impacto ecológico.
Com o título de “As paisagens artificiais no Brasil e o presente distópico do cenário natural”, a conversação estará centrada na questão ecológica e discutirá a obra ‘Baits 5’ (‘Cebos 5’)(2019). Esta obra é uma peça amorfa tridimensional realizada a partir de escombros recolhidos na Praia do Leste, uma zona urbana costeira situada no município de Iguape, no litoral sul de São Paulo. Os escombros são o resultado da destruição de uma área residencial provocada pelo avanço do mar sobre o continente. Neste link está a informação completa sobre a entrevista e um breve CV do artista.

A segunda sessão acontecerá na sexta-feira, 6 de maio, às 13h00 (hora local). Nesta ocasião, Juliana Freire, artista brasileira contemporânea e militante do ‘Acivismo Cósmico’, que com Kalinca Costa Söderlund, tratarão das peregrinações da artista como fonte de produção, e como tentativa simbólica de transmutação da mente, do cuerpo e do espírito ao ‘outro’ nativo.
A entrevista intitulada “Uma Peregrinação do Eldorado Simbólico ao Povo Xingú” versará sobre ‘Expedição ao Sol’ (2019), uma longa viagem que passa pelo Planalto Central, a zona do acidente radioativo com Césio-137 de 1987 em Goiânia, e o Partenón modernista, ao Leste, passando pelo Eldorado simbólico como cura das frustrações e insatisfações que provoca a vida racionalizada ocidental, e as incongruências do progresso. Nesta peregrinação, Eldorado se converte em um símbolo alternativo de conheicmento, poder e amor, e em uma forma de combater as castrações impostas à humanidade pelo pensamento dicotômico e hiperracionalizado do Ocidente, e numa forma de questionar a chamada ‘forma civilizada’ de estar no planeta Terra e de abusar dele. Também falaremos da ‘Expedição Akashica’ (2014-2019), onde compartilhar a vida com as tribos nativas da região do Xingú é uma forma de conetar o corpo com suas origens ancestrais e a alma do Brasil pré-colonial. Esta peregrinação é também um processo de aprendizagem de um tipo de vida comunitária que não implica a separação do homem da Natureza nem da Divindade. É uma experiência de ‘comunidade’ em todo seu sentido holístico. Consulte aqui todos os detalhes da entrevista e o currículo da artista.

O ciclo finaliza na sexta-feira, 13 de maio, às 13h00 (hora local), com uma entrevista a Marcelo Amorim intitulada “Combatendo as estruturas de poder no Brasil chamando a atenção sobre o arraigado mecanismo de perpetuação do hegemônico”. Nesta entrevista, Kalinca Costa Söderlund tratará da prática de um artista brasileiro que se propos a desvendar a formação histórica do homem branco dominante e depredador: o cume da cadeia alimentar humana do Ocidente. As instituições sociais – como se verá ao discutir a extensa pesquisa de arquivos e a produção artística de Amorim – foram responsáveis da conformação deste tipo de triunfo supremacista na paisagem sociopolítica brasileira: a família, a escola, os rituais de iniciação social, a educação militar e o entorno laboral. Amorim nos permitirá empreender uma desafiante viagem visual e conceitual por uma hegemonia do poder baseada na virilidade, na violência e na prevaricação, ideal de força mental e física, e fortaleza moral. E não há forma de combater a hegemonia de maneira integral sem reconhecer os próprios processos bos os quais se forma e se transfere de geração a geração, se a tarefa que está em jogo é conseguir uma mudança radical. Consulta neste link todos os detalhes sobre a entrevista e o trabalho do artista.
O evento será transmitido ao vivo através das redes sociais do CEB: Facebook e Youtube. Não é necessário inscrição prévia.