Catálogo da exposição “Profundidade de tempo”, do fotógrafo brasileiro Ricardo Hantzschel, projeto selecionado no âmbito do programa de Residência Artística de Fotografia de 2022, do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca.
Este projeto fotográfico está formado por 22 imagens e tem como objetivo ampliar o universo de representações e do imaginário que temos acerca da paisagem urbana, observando-a sob uma condição temporal que só a velocidade lenta pode revelar.
Atualmente, passamos muito tempo vendo o mundo através de telas, simbolizadas pelos onipresentes aparelhos celulares, investidos por seus usuários como o “olho eletrônico” que, em conjunto com a internet, o vídeo e a televisão, constroem parte significativa da representação imagética da atualidade. Uma produção que valoriza a captação abundante e a aceleração no compartilhamento, resultando em imagens em geral descartáveis, voltadas para o consumo imediato.
Uma maneira de contornar essa situação e expandir imageticamente a representação da cidade é conquistar a autonomia de idealizar seus próprios meios de captação fotográfica através de câmeras singulares. Essas câmeras singulares observam a cidade sob uma condição temporal lenta, que pode revelar ao olho humano seus aspectos mais ocultos. Na contramão da rapidez, precisão e atualização constante das câmeras industriais, a técnica pinhole é uma opção como uma “fotografia lenta”, que valoriza a espera e abre espaço para o experimentalismo e contemplação. O foco principal foi poder representar a “duração” na imagem, sugerida em vestígios luminosos de movimentos, que funcionariam como “marcadores temporais”, isto é, rastros de deslocamentos, terrenos ou celestes, visualmente identificáveis somente quando inscritos na imagem. Para viabilizar e aprofundar este desejo, optou-se pela técnica da solargrafia, um desdobramento do uso das câmeras pinhole, que utiliza tempos dilatados de exposição, de meses a anos de duração.
O fotógrafo
Ricardo Hantzschel é graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC, São Paulo, Brasil), é pós-graduado em Fotografia e Mídia pelo Centro de Comunicação e Artes do Senac (2000) e mestre em Poéticas Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, Brasil, 2021). Foi docente do bacharelado em Fotografia do Centro Acadêmico Senac, ministrando disciplinas na graduação e pós-graduação entre 2000 e 2015. Com sua produção autoral em fotografia obteve, entre outras, duas conquistas nacionais: o Prêmio Funarte Marc Ferrez (2014) e o Prêmio Porto Seguro de Fotografia, (2003). Idealizou e coordena a ação cultural em linguagem visual Cidade Invertida, entidade sediada em São Paulo (Brasil), mas com forte caráter itinerante desde 2006, com atuação em entidades da periferia, faculdades, museus e eventos fotográficos. O projeto foi premiado em 2019 pelo primeiro edital de criação e exposição fotográficas da Secretaria Municipal de Cultura/SP, reconhecido, em 2010, através do Prêmio Comgás de patrocínio Sociocultural, reconhecido com o mérito cultural em 2008 pela Secretaria da Cultura do Estado/SP e, em 2007, pela Secretaria Municipal de Cultura/SP.