Na semana passada falamos de sete dos melhores compositores de MPB de todos os tempos, mas guardamos as medalhas de ouro, prata e bronze para esta semana. E isso porque os três grandes mestres a quem dedicamos este programa merecem um programa exclusivo para eles e várias horas de música sem interrupção. São, talvez, três dos maiores artistas do século XX, capazes de superar fronteiras e culturas para chegar diretamente ao coração das pessoas. Não é necessário ser brasileiro ou saber português para entender sua música, basta com acomodar-se e disfrutar.
Magro, tímido, simples e sorridente, com dois maravilhosos olhos azuis que são patrimônio nacional, Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido como Chico Buarque, é filho de um dos melhores historiadores do Brasil contemporâneo, Sergio Buarque de Hollanda. Nasceu no Rio de Janeiro nos anos 1940, Chico se matriculou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, mas somente cursou dois anos porque sabia que o seu destina estava na música. Foi descoberto em 1966, quando ganhou o Festival de MPB retransmitido pela TV Record, com a canção “A Banda”, interpretada por Nara Leão. Inquieto, talentoso e apaixonado, Chico Buarque não se limitou a compor singles e sucessos radiofônicos. Participou como ator e compôs os temas de vários filmes, é autor de peças teatrais como Roda Vida e Gota d’Agua, Calabar, ambas proibidas durante a ditadura e de um musical (A Ópera do malandro) que foi levado à tela de cinema por Ruy Guerra. Compôs um livro-poema para crianças, Chapeuzinho Amarelo, cheio de magia e boas vibrações e seis romances: Bejamin, Budapest, Fazenda Modelo, Estorvo, Leite derramado e O Irmão alemão. Muitas de suas canções foram regravadas por outros artistas. É o caso de “Atrás da Porta” imortalizada por Elis Regina e “O Cio da terra”, gravada por Milton Nascimento. Além disso, Chico se caracteriza por um “eu lírico” feminino, através do qual aborda diversos temas a partir do ponto de vista das mulheres com notável poesia e beleza e que faz com que suas composições sejam perfeitas para cantoras femininas. Talvez os casos mais famosos sejam “Olhos nos olhos” e “Teresinha” gravadas por Maria Bethania e “Folhetim” com Gal Costa, mas há muito mais.
Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, mais conhecido como Caetano Veloso, é um dos músicos e compositores brasileiros mais conhecidos fora do Brasil. Com cinco décadas de estrada, a obra de Caetano está marcada pela releitura e a renovação constantes, além de ter um valor intelectual e poético indiscutível. Caetano começou escrevendo críticas de cinema para o jornal Diário de Notícias dirigido pelo diretor Glauber Rocha e participando de espetáculos semiprofissionais. Chegou ao palco com a sua irmã Maria Bethânia, que gravou uma canção de sua autoria em seu primeiro disco Sol negro. Polêmico e inconformista, Caetano lideraria o movimento conhecido como Tropicalismo, que renovou o cenário musical brasileiro e os modos de apresentar e criar música no Brasil. O ponto de partida foi o disco Tropicalia ou Panis et Circensis, um álbum coletivo que contou com a colaboração de nomes consagrados como Lara Leão, Os Mutantes, Torquato Neto, Tom Zé, Gilberto Gil, Gal, entre outros… Na década de 1980, já menos irreverente, apadrinhou e se inspirou nos grupos de rock nacional e entrou numa espiral criativa que resultou nos discos Outras palavras, Cores, Nomes, Uns e Velô. A sua música começava a tocar e a ser valorizada fora do Brasil, especialmente em Israel, Portugal, França e África e Caetano fez várias participações no cinema e na televisão ao lado do seu amigo Chico Buarque. Dessa época são algumas das gravações mais representativas da sua carreira e de toda a MPB, como por exemplo: “Os outros românticos”, “O estrangeiro”, “Giuletta Massina”, “O ciúme”, “Outras palavras” e a maravilhosa “O quereres”.
E assim, de maneira suave e simples, chegamos ao final deste peculiar Top 3, com a nossa medalha de ouro ao melhor, em nossa opinião, compositor de MPB de todos os tempos: o grande Vinicius de Moraes. Poeta, dramaturgo, jornalista, diplomata, cantor e compositor, Vinicius era um boêmio incorrigível, fumante e bom bebedor de whisky e um grande conquistador que chegou a se casar em até 9 ocasiões. A sua obra é ampla e passa pela literatura, teatro, cine e música, ainda que ele sempre se considerou acima de tudo um poeta. Diplomata de carreira, desempenhou vários cargos oficiais em Los Angeles, Montevidéu, Roma e Paris, mas com a chegada da ditadura militar foi destituído por seu comportamento boêmio. Em 1954, publicou a peça Orfeu da Conceição, premiada no concurso do IV centenário de São Paulo. Dois anos depois, quando buscava alguém que pusesse música na peça, seu amigo Lucio Rangel lhe recomendou trabalhar com um jovem pianista, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, Tom Jobim, que na época tinha 29 anos e vivia da venda de composições e arranjos musicais nos bares de Copacabana. Do encontro entre Vinicius e Tom nasceria uma das mais fecundas duplas da música brasileira. Esta dupla de gênios deixou canções que são um verdadeiro patrimônio da humanidade como a fundadora da bossa nova “Chega de saudade”, e a mil vezes reinterpretada “Garota de Ipanema”, e se temos que ficar com alguma, “Insensatez” ganha de goleada. Além de Tom Jobim, Vinicius colaborou em numerosas ocasiões com Carlos Lyra. Com ele compôs clássicos como “Você e Eu”, “Coisa mais linda” e “Nada como te amar”. Com Pixinguinha compôs a trilha sonora do filme Sol sobre a lama de Alex Vianny e com Banden Powell sucessos como “Canção de amor”, “Canto de Ossanha”, “Mulher carioca”, “Para que Chorar” e esta canção com a qual despedimos o programa, que se chama “Samba em preludio”.
Músicas do prôgrama:
1.- “Geni e o Zepelim”, Chico Buarque.2.- “Sabiá”, Chico Buarque e Tom Jobim.4.- “Eu te amo”, Chico Buarque.5.- “Alegría, alegría”, Caetano Veloso.6.- “O quereres”, Caetano Veloso e Maria Gadú.7.- “Insensatez”, Vinicius de Moraes.8.- “Samba em preludio”, Vinicius de Moraes e Toquinho.Refêrencias:
Página oficial de Chico Buarque.