O samba da minha terra: bloco Amigos da Onça

Entrevista com Tarcísio Cisão, e Karen Lino, sobre o bloco carnavalesco “Amigos da Onça”.

Nesta entrega de “O samba da minha terra” falamos de carnaval de rua, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro. Aliás, como bem sabe quem vem acompanhando esta coluna, o carnaval começou na rua e depois, só muito depois, que foi para a Sapucaí, para os desfiles que conhecemos com as escolas de samba. O carnaval de rua, o carnaval dos blocos, houve um momento em que perdeu a sua efervescência, retomando-a com força total por volta da década de 1990, e atualmente, literalmente, arrasta multidões, especialmente na cidade do Rio de Janeiro.

E para ilustrar o carnaval de rua, o carnaval dos blocos, nesta emissão apresentamos o bloco “Amigos da Onça”. Este bloco foi criado há dez anos, como o resultado do encontro de um grupo de amigos numa ocasião bastante inusitada. Tarcísio Cisão, idealizador do bloco “Amigos da Onça”, saxofonista e regente dos sopros, é um dos entrevistados no programa. Ele conta que numa ocasião, na cidade mineira de Juiz de Fora (Minas Gerais, Brasil), ele e um grupo de amigos e músicos estavam reunidos para um festival de música. E no restaurante contratado para as refeições dos músicos, havia de tudo na comida (eca…)!!! E o nome “Amigos da Onça” vem dessa expressão que quer dizer, amigo “sí, pero no mucho”, aquele amigo que sempre apronta alguma, que te coloca numa saia justa! E há dez anos que desse encontro de músicos e amigos, numa experiência gastronômica nada prazerosa, nasceu “Amigos da Onça”, primeiro a música, depois, o bloco. O vídeo abaixo é o videoclip oficial da música “Amigo da onça”.

Ainda na primeira parte da entrevista, Tarcísio Cisão explica como o bloco está formado: logo no início, os pernas de paus cobertos de fantasias, seguidos pelas “oncetes”, dançarinas e dançarinos que fazem performances e coreografias no chão. Depois vêm os naipes, como se chamam esses grupos dentro do bloco; e depois chegam os instrumentos: primeiro, os de sopro com saxofone, trompetes, trombones e tuba. Depois, a percussão com timbais, caixas, xequerês e repiques. Entrelaçando os naipes, estão os estandartes, que sempre trazem representações políticas e carnavalescas, com temas que inspiraram o bloco.  

Mas, como ficou o bloco na pandemia? A comemoração dos dez anos do bloco “Amigos da Onça” ficou registrada numa live, que está disponível no YouTube (vídeo abaixo). O grupo se reuniu para recordar sucessos dos carnavais anteriores e para prometer que assim que acabar a pandemia haverá mais carnaval de rua.

E não acabamos por aqui. Uma das características fortes do bloco é a teatralidade e a força das coreografias, que fica por conta do naipe da dança. A ala da dança do bloco é constituída por mulheres e homens que encarnam o personagem da onça no baile, no figurino e na maquiagem. Para alinhar o trabalho artístico, as professoras de dança dão aulas para alunas e alunos que se interessam pela proposta artística do bloco. Nas oficinas de dança, os alunos aprendem o que é o personagem da onça, como despertá-lo em si, como estimular o corpo brincante durante o carnaval, sempre com respeito e empatia, e aprendem as coreografias que integram a playlist do bloco. E para falar sobre essa experiência estética, contamos com uma entrevista à dançarina Karen Lino, integrante do bloco há sete anos, e uma das professoras nas oficinas de dança.

Para Karen Lino, a dança cumpre uma função social. Ela diz que “quando uma pessoa começa a dançar, ela está convidando outras pessoas a se moverem também”, que, para ela, é representativo do trabalho artístico da dança dentro do bloco. A cada ano e a cada desfile, novas alunas “oncetes” se juntavam ao grupo por acreditarem no poder artístico da dança. Atualmente, as oficinas acontecem on-line.

Na pandemia, o bloco precisou se readaptar, como explica a dançarina Karen Lino, porque apesar das realidades díspares no grupo, toda a economia criativa que gira ao redor do carnaval, especialmente os profissionais e trabalhadores do setor, vem sendo afetada ao longo desses mais de doze meses de pandemia. E para enfrentar esse contexto tão duro, a aprendizagem e a formação de uma rede de apoio foram fundamentais.

Para quem quiser conhecer mais sobre o bloco “Amigos da Onça”: Facebook, YouTube e Instagram @blocoamigosdaonca.

Para sobreviver e resistir, mais cultura, por favor!

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