Ao longo dos últimos anos, passaram pelos microfones de Rádio Universidade muitos dos fotógrafos e fotógrafas do Programa de Residência Artística de Fotografia do CEB. Com Giancarlo Giannelli inauguramos uma série especial de podcasts com as entrevistas a esses artistas. Nas entrevista, falamos sobre o trabalho e a técnica fotográfica, além, claro, da experiência e passagem pela sala de exposição do Palácio de Maldonado.
Giancarlo Giannelli: do Amazonas a Salamanca

Giancarlo Giannelli é autor de um dos quatro projetos selecionados no programa de Residência Artística de Fotografia de 2019. A exposição “Amazonas: el pulmón, la sangre y los glóbulos verde-amarillos”, inaugurada no mês de maio, incluía impactantes imagens tomadas durante a expedição do Barco da Saúde, que passou por diferentes comunidades do estado do Amazonas (Brasil).
Na primeira parte da entrevista, Giancarlo Giannelli habla de sua formação e trajetória como fotógrafo. Quanto tinha 19 anos, viveu um tempo em Turim (Itália), onde começou a desenvolver o gosto pela fotografia artística. De volta ao Brasil, organizou a exposição Italia em grãos de prata, no Centro de Convivência Cultural de Campinas, com as fotos em preto e branco que havia feito na Itália. Nessa época, começou a trabalhar como fotógrafo corporativo em várias empresas, e graças a isso, teve a oportunidade de participar de vários eventos acompanhado de sua câmera: de corridas de Fórmula 1 até concertos de grandes nomes da música brasileira como Djavan e Gilberto Gil, passando pela atividade de personalidades políticas como o presidente eleito Lula, Geraldo Alckmin, Michel Temer, entre outros.
Há uns anos, Giannelli redirecionou o seu trabalho para uma fotografia menos comercial e mais autoral. Foi aí quando decidiu cursar jornalismo, carreira que terminou com 45 anos. Diante de um futuro incerto, marcado por câmbios tecnológicos, Giancarlo Giannelli continua cheio de ideias e disposto a mostrar ao mundo novas formas de viver em paz.
Uma última nota: Giancarlo é um antigo conhecido da Residência Artística, pois outro projeto seu “Urbanicidade” – também foi selecionado para ser exposto no Palácio de Maldonado em 2016.
Amazonas: o pulmão, o sangue e os glóbulos verde-amarelos

Na segunda parte da entrevista, Giancarlo Giannelli fala da gênese da exposição “Amazonas: el pulmón, la sangre y los glóbulos verde-amarillos”, que esteve aberta a visitação no CEB entre maio e junho de 2019. Tudo começou em 2017, quando foi convidado a participar do projeto Barco da Saúde, organizado por estudantes e professores da Faculdade de Medicina de São Leopoldo Mandic (Campinas, São Paulo, Brasil). A expedição tinha o objetivo de, por um lado, prestar assistência médica e odontológica a três comunidades indígenas: Murutinga, Natal e Iguapenus, na região de Autazes, no estado do Amazonas, e, por outro, adquirir experiência a partir de novos desafios médicos.
A expedição aconteceu no barco e durou uma semana, entre 18 e 25 de junho de 2017. Durante esse tempo, o fotógrafo e a equipe de estudantes e professores (em total, 20 pessoas), além da tripulação do barco, dormiram e comeram nos camarotes da embarcação. No primeiro dia, Giancarlo acordou cedo, por volta das 5 da manhã, para fotografar o amanhecer. Quando abriu a porta do camarote e viu pela primeira vez o Amazonas, ficou sem palavras. Era, em partes iguais, lindo e assustador.
Giancarlo fotografava e gravava as atividades do Barco da Saúde: os jogos com as crianças, as visitas médicas, as consultas… O resultado da expedição foi tão bom que todos voltaram para casa felizes e sorridentes.
A primeira coisa que o nosso entrevistado fez foi editar um documentário com as imagens gravadas. O documentário está disponível abaixo.
O título do documentário e da exposição foi uma ideia repentina. Pouco antes de apresentar o documentário na faculdade, o autor, por associação de ideias, chegou à função do Amazonas como floresta, rio e fonte de vida para seus habitantes, daí o nome: Amazonas, o pulmão, o sangue e os glóbulos verde amarelos, numa clara associação entre o corpo humano, o meio ambiente e a diversidade do povo brasileiro. Meses depois, publicou um livro homônimo e com as imagens selecionadas. A exposição que esteve no CEB foi montada, justamente, a partir das fotos publicadas nesse livro.
A exposição começa e termina com a água, pois a sensação tátil, confessa Giancarlo, é sempre muito forte. Há imagens de crianças realizando atividades peculiares aos olhos da nossa sociedade moderna, a interação entre a equipe e os moradores das comunidades visitadas, e surpreende com fotos de cachorros, que simbolizam o sofrimento do povo diante da ausência do Estado e do descumprimento de suas obrigações mais básicas.
Projetos de futuro
Para terminar a entrevista, Giancarlo Giannelli fala dos projetos de futuro. Vem trabalhando para desenvolver novas linguagens em fotografia e em vídeo, sempre com vocação social. Menciona, por exemplo, a sua participação num livro que celebra os 40 anos da fundação do Hospital Sobrapar em Campinas (São Paulo, Brasil), dedicado a pacientes com deformidades crânio-faciais. Também fala do projeto “Trampolim”, um documentário sobre adolescentes de comunidades carentes, onde os próprios adolescentes serão, ao mesmo tempo, protagonistas e câmeras do filme.
Agradecemos a Giancarlo Giannelli pela entrevista!