Entrevista com Carlos Galilea

Carlos Galilea, a voz de “Cuando los elefantes sueñan con la música”, fala sobre seu livro dedicado a Caetano Veloso.

No último 21 de novembro, o CEB acolhia a programação do colóquio internacional “Trip Tropel Tropicalista”, dedicado a analisar a obra de Caetano Veloso e o Tropicalismo. Como parte da programação, contamos com a apresentação do livro Caetano Veloso. Conversaciones con Carlos Galilea (Blume, 2022), conduzida pelo autor e moderada pelo Catedrático de Filologia Moderna da USAL, Prof. Dr. Pedro Serra.

E aproveitando a ocasião, entrevistamos o jornalista Carlos Galilea, a voz do programa “Cuando los elefantes sueñan con la música”, emitido diariamente, desde 1987, em Radio 3, da Rádio Nacional da Espanha. Para quem ainda não conhece o programa, a emissão está dedicada à música brasileira, mas não somente: Carlos Galilea entrelaça bossa nova e jazz, e traz histórias fascinantes sobre música e músicos.

Na primeira parte da entrevista, falamos sobre o programa “Los elefantes” – como carinhosamente, nós, ouvintes, chamamos o programa -, e como foi a sua aproximação à música brasileira. A referência inicial mais marcante da música brasileira para Carlos Galilea foi Milton Nascimento, mais precisamente a música “Minas”. Naquela época – estamos falando de mais de 35 anos passados – as músicas internacionais circulavam com muita lentidão, se comparamos à velocidade de hoje em dia. Galilea leu numa revista francesa um artigo sobre Milton Nascimento, pouco tempo depois, um músico brasileiro residente em Madri, interpretou uma canção de Milton num festival na capital e

yo me acuerdo de que puse la oreja así, él cantó Vera Cruz. Yo iba escuchando aquello y decía ‘no me puedo creer, ¿Qué es esto? ¿Qué es esto? Era como una revelación. ‘¡Esto es para mí!’ Entonces, a partir de ahí, pues, acabé consiguiendo un LP de Milton

Com mais de três décadas no ar, o programa conduzido por Carlos Galilea é uma referência incontornável para quem gosta de música (e ponto!), para quem quer se aproximar da música brasileira. E isso é assim, em parte também, graças à liberdade que ele tem para escolher a programação, o conteúdo do programa. E, claro, depois de tanto tempo em antena, Carlos Galilea sabe que tem um público cativo, que lhe acompanha e que se encanta com a tamanha sensibilidade para falar de música.

Na segunda parte do programa, tratamos mais especificamente do livro, Caetano Veloso. Conversaciones con Carlos Galilea. O livro reúne 19 conversações entre Carlos Galilea e Caetano Veloso, que aconteceram, a primeira em Madri, em 1991, passando por outras cidades espanholas, europeias e brasileiras, até a última, de 2017, no Rio de Janeiro.

Para Galilea, estas conversações são a parte mais interessante do livro, são quase um “Caetano por Caetano”. Além das conversações com Caetano Veloso, os leitores e leitoras encontrarão também uma série de textos elaborados pelo próprio autor a modo de perfil, de contexto, para situar os leitores mais desavisados sobre elementos importantes na vida e obra de Caetano. Há também letras de algumas músicas traduzidas ao espanhol, e fechando o livro, uma discografia maravilhosa, uma verdadeira bússola para orientar-nos na gigantesca obra de Caetano. E como se fosse pouco, a obra começa com uma introdução assinada por Caetano Veloso, que logo no início diz assim:

Imposible que alguien tenga un conjunto de entrevistas dadas por mí que produzcan una visión tan completa y articulada de mi vida mental como el que ha reunido Carlos Galilea

E mais adiante, no final, fecha o texto assim:

Llego a los 80 con esa organizada confusión em mi coco. Solo un libro como este trae un relato de como eso se desarrolló. No necesito ser modesto para decir que ni siquiera soy un buen músico (como hay tantos en Brasil y en el mundo). No lo soy. Pero modestia no es lo que aflora cuando llegas a los 80 y ves un libro como este

Carlos Galilea é generoso com as palavras e com o carinho que dedica ao Brasil e à música brasileira. E quando pedi a ele uma sugestão de música para fechar o programa, ele disse que achava melhor que cada um buscasse e descobrisse por si mesmos na rica obra de nomes como Caetano, Milton, Elis Regina, Edu Lobo, Rosa Passos…

yo, más que elegir una canción, le digo a la gente que esté abierta, que abra los oídos y que disfruten porque [música] es la emoción

Por isso, “¡emocionáte!” Confira o podcast com a entrevista completa e as músicas “Minas”, uma composição de Caetano Veloso, Milton Nascimento e Novelli, gravada no disco homônimo, de Milton Nascimento, em 1975, e “Trem das cores”, uma composição original de Caetano Veloso, gravada no disco “Cores, nomes”, de 1982.

E como diz o refrão “es de bien nacidos ser agradecidos”, a Galilea, o nosso mais sincero agradecimento pela entrevista e por cuidar tão bem dos nossos “elefantes”.

Compartir

Relacionado:

Entrevistamos Eduardo Queiroga, autor da exposição “Mães de umbigo”, que pode ser visitada até 14 de abril no CEB.
Entrevista com Wladimir Vaz e Tive Martinez, do selo editorial La Abaporu, sobre a tradução ao espanhol da autobiografia de Luís Capucho “Cinema Orly”.
Uma entrevista com os fotógrafos brasileiros Paulo Jolkesky e Ricardo Martinelli sobre o livro “Retratos do Ribeira”.
Anterior
Próximo