Para lançar o livro Tensões e vivências afirmativas na Amazônia brasileira (EUSAL, 2024), Raimunda Monteiro, professora titular e ex-reitora da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa, Brasil), esteve no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, e na ocasião participou de uma entrevista no programa onde falou sobre os desafios da Amazônia brasileira. Nos últimos anos, a Amazônia brasileira foi o tema central de muitos dos debates acerca da questão climática no Brasil e no mundo. Durante os anos de pandemia de covid-19, a região foi duramente golpeada, e vemos até hoje as consequências desse momento entre suas populações tradicionais e instituições. Entre as instituições que mais sofreram foram as universidades públicas. Para Raimunda Monteiro, o crescimento e os investimentos na região entre 2006 e 2012 foi paralisado nos anos posteriores, e com a crise provocada pela covid-19, as universidades públicas se esvaziaram.
Quando se retoma pós-covid-19, essas universidades em grande medida, estavam esvaziadas dos seus alunos indígenas, dos seus alunos quilombolas, dos seus alunos mais pobres, que não conseguiram mais voltar. Então, um dos impactos maiores, eu diria, que foi um impacto social mesmo nas universidades, resultante da queda nos investimentos, aliás, zero investimentos, e na queda do custeio das universidades, o que o novo governo está recompondo agora e aperfeiçoando, e retomando as políticas de inclusão no ensino superior e tecnológico.
Raimunda Monteiro
A escassez de investimento e de políticas públicas e a negação da questão climática são desafios que o atual governo brasileiro e sociedade civil têm que enfrentar para conseguir reposicionar o país como protagonista nos debates internacionais sobre meio ambiente. Na entrevista, Raimunda Monteiro sinaliza que, internamente, o trabalho vem sendo feito, em primeiro lugar, em dar status de autoridade de governo a, por exemplo, populações e povos indígenas, à agricultura familiar, e à questão racial. E assim, o governo consegue colocar a Amazônia e os demais biomas brasileiros como elementos transversais em todas as políticas públicas doo país:
É muito interessante ver como a questão da sustentabilidade, a própria Amazônia, a política de clima do país, uma política de reindustrialização verde, ela hoje está presente no conjunto dos órgãos de governo. Todos os ministérios de alguma forma tocam a política ambiental, e programas para a Amazônia. Um desafio hoje é mais coordenar, concertar as ações das políticas e programas para que elas cheguem com efetividade do que realmente ter políticas.
Raimunda Monteiro
Com relação à comunidade internacional, os desafios não são menores. É necessário realizar uma política de Ciência e Tecnologia e novos investimentos objetivando a cooperação internacional – além da valorização dos profissionais formados na região -, e Raimunda Monteiro ainda considera que a liderança do Brasil em eventos como a COP30 e a presidência do G-20 este ano serão fundamentais para dar visibilidade à Amazônia e reconstruir a imagem do Brasil no mundo.
Então, temos boas perspectivas nesse sentido, tanto do ponto de vista das políticas nacionais como também da cooperação internacional. Se nós formos ver o que o Tratado de Belém firmou, resultado da Cúpula da Amazônia, ele propõe várias medidas de impulsionamento da cooperação internacional na Cuenca Amazônica, também para a intensificação da cooperação científica, que eu creio que a partir deste ano gerarão resultados locais e em relação à visibilidade da Amazônia no contexto internacional. Eu creio que com a COP30, que vai acontecer em Belém, os compromissos do Brasil com a realização da COP30 na Amazônia, e todos os esforços que estão sendo feitos, que não é só de governo, é com a sociedade junto, nós teremos nesses próximos dois anos a Amazônia pautada pelos principais organismos da cooperação internacional na área ambiental, (...) o presidente Lula, como eu falei, ele precisou reconstruir a imagem do Brasil, de um Brasil e de um governo que que não acreditava na Ciência, de um governo que negava mudanças climáticas, que desmontava o próprio Sistema de Ciência e Tecnologia do país, para um governo que busca a cooperação internacional, que busca a abertura de novas oportunidades tanto para que os outros países possam investir no país, mas também que busca convencer os seus próprios agentes econômicos a ingressarem numa rota de economia verde. Isso é um desafio que sabemos que não estamos partindo do zero, mas podemos ir muito longe.
Raimunda Monteiro
A Amazônia brasileira em debate
Em seus números 15 e 16, a Revista de Estudios Brasileños publicou dois dossiês dedicados à Amazônia brasileira, coordenado pelas professoras Raimunda Monteiro (Ufopa, Brasil), Enaile Iadanza, da Universidade de Brasília (UnB, Brasil) e Helena Lastras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Brasil).
Em diálogo com estas duas publicações, o CEB oferece agora o livro Tensões e vivências afirmativas na Amazônia brasileira (EUSAL, 2024), coordenado pelas professoras três professoras brasileiras e que reúne treze artigos de autoria de pesquisadoras e pesquisadores dos estados da Amazônia brasileira e de outras instituições do Brasil.
Consulte abaixo algumas das publicações mais recentes do CEB sobre a Amazônia brasileira:
Revista de Estudios Brasileños, vol. 6, úm. 11, de 2019, Bioma Amazônia e seus desafios, coordenado por Jacques Marcovitch (USP, Brasil) e Adalberto Val (INPA; Brasil).
A Revista de Estudios Brasileños da Universidade de Salamanca, no marco dos 800 anos da instituição, publica em janeiro de 2019, um dossiê o Bioma Amazônia. A publicação reúne onze ensaios acadêmicos, uma entrevista com o cientista Thomas Lovejoy e quatro resenhas focadas em obras de referência na literatura ambiental.
Revista de Estudios Brasileños, vol. 7, núm. 15, de 2020, dossiê Amazônia brasileira: ocupação e políticas socioambientais.
Revista de Estudios Brasileños, vol. 8, núm. 16, de 2021, dossiê Amazônia brasileira: ocupação e políticas socioambientais.
Georgios Fotopoulos, I. (2020). La luz en los ecosistemas forestales amazónicos. Residencia Artística de Fogorafía (catálogo 2020/8). Salamanca: Centro de Estudios Brasileños.
Vários Autores. (2020). Cores amazônicas. Coletânea de contos. Madri: Ediciones Ambulantes.
Raimunda Monteiro é professora titular da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa, Brasil) e Secretária Adjunta do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS, Brasil). Doutora em Ciências (Desenvolvimento socioambiental) pela Universidade Federal do Pará (UFPA, Brasil); e pós-doutora em Ciências sociais pela Universidade de Coimbra (Portugal).