Nesta entrega de Brasil es mucho más que samba, falamos sobre o Dia Nacional da Música Clássica no Brasil, que se comemora em 5 de março, data que celebra também o nascimento do mestre e compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos. A data foi instituída em 2009, por decreto presidencial assinado em 13 de janeiro.
E aproveitamos a destacada data para anunciar a programação da primeira edição do Festival de Música de Câmara Brasileira, um evento organizado em colaboração entre o Centro de Estudos Brasileiros, a Fundação Cultural Hispano-Brasileira, o Conservatório Superior de Música de Salamanca e a Academia Brasileira de Música. Os concertos começam em 11 de abril e vão até 9 de maio, a partir das 20 horas e com entrada gratuita. Confira a programação completa neste link.
Heitor Villa-Lobos
A música clássica brasileira deve muito a Heitor Villa-Lobos, porque se atribui a ele a criação de uma linguagem tipicamente brasileira para a música clássica. Sem dúvida, a sua obra mais marcante é a série Bachianas Brasileiras, uma das composições que formam parte desse ciclo é a número 2, também conhecida como “Trenzinho caipira”, que é absolutamente maravilhosa.
Cabe explicar brevemente que as Bachianas brasileiras é um ciclo formado por 9 composições de Heitor Villa-Lobos escritas a partir de 1930. Essa série foi escrita para formações musicais diferentes, e onde Villa-Lobos une essas referências ao folclore brasileiro e outras expressões de música clássica, como a evidente referência a Johann Sebastian Bach.
Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro, em 1887. Com 6 anos começou aprender violoncelo com o pai. Com 16 anos, atuava em pequenas orquestras e em grupos de choro. Em 1922, passa a formar parte do grupo de artistas e intelectuais que organizaram a “Semana de Arte Moderna”. A marca cultural deixada pela Revolução de 1930, abre um caminho a Villa-Lobos, que lhe permitiu executar um grande projeto de educação musical dirigido à sociedade. Este projeto influenciou sua própria obra, aderindo, a partir desse momento, correntes estéticas europeias do momento com a música popular urbana e suas pesquisas sobre cultura popular brasileira. Em 1945, fundou a Academia Brasileira de Música, na qual ocupou a cadeira número 1. Heitor Villa-Lobos faleceu em 1959. Do seu amplo repertório sinfónico, cabe citar o poema sinfónico Iara, os ballets Amazonas e Uirapuru (1917), os Choros (números 6, 8, 10, 11 e 12), o ciclo das Bachianas Brasileiras (números 2, 3, 4, 7, 8 e 9), a suíte O descobrimento do Brasil (1937), A floresta do Amazonas e as sinfonias, especialmente a Sinfonia nº10: Sumé Pater Patrium (1957). Heitor Villa-Lobos não só é um dos grandes nomes da música brasileira, mas da música clássica em geral (Borges, 2008; Moreira, 2014).
Luiz Guilherme Duro Goldberg, professor do Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas, escreveu em seu artigo “O modernismo musical brasileiro” o seguinte:
Parafraseando Mário da Silva Brito, poderão parecer, ao público de hoje, tímidas e, por vezes, desajeitadas as realizações musicais desses compositores brasileiros, mais acadêmicas do que revolucionárias, mas, ao seu tempo, repercutiam perturbadoramente, eram objeto de discussão e poderiam causar algum escândalo. Mas foi, através delas, que novas perspectivas puderam ser abertas e processos mais amplos para a expressão musical foram conquistados. Portanto, o período da Primeira República [de 1889 – 1930], mostra-se uma época muito rica para a música brasileira. A eterna atualização estética junto com a afirmação da identidade brasileira, pelo autoconhecimento de suas músicas nativas (urbanas ou rurais), refletem um “período mágico”, onde “reside a essência do verdadeiro e breve modernismo musical brasileiro”. (Chaves, 2000; 140). Na mesma linha reflexiva de Celso Loureiro Chaves, o modernismo musical brasileiro pós Semana de Arte Moderna dogmatizou-se e virou Nacionalismo Musical Brasileiro.
(Goldberg, 2006, p. 67)
Há muitos artigos sobre esse processo de busca de uma identidade brasileira na cultura, na música, especialmente nessa primeira metade do século XX, lembramos que havia projetos políticos e ideológicos em disputa, entrava o samba urbano no cenário cultural e a própria música popular brasileira foi se gestando nesse contexto.
E para celebrar a música clássica brasileira, terminamos este podcast com uma composição de Villa-Lobos da série Bachianas brasileiras, número 5, gravada pela Orquestra Rio Villarmônica, de 2022.
Concurso de violão clássico do Centro de Estudos Brasileiros, de 2011
Em 2011, o Centro de Estudos Brasileiros organizou o “Certamen Internacional de Guitarra Clásica Heitor Villa-Lobos”, um concurso de violão clássico, que contou com a participação de intérpretes de diferentes partes do mundo. Confira a gravação do evento e algumas atuações: entrega de prêmios, atuação de Rovshan Mamedkuliev, atuação de Marco Topechii e a atuação de Alejandro Cordova.
Outras informações:
Andrea Bissoli, a arte de interpretar Heitor Villa-Lobos (2021). Entrevista com Andrea Bissoli.
Borges. M. F. (2008). Heitor Villa-Lobos: o músico educador. Dissertação de mestrado, Universidade Federal Fluminense, UFF, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
Decreto de 13 de janeiro de 2009.
Goldberg, L. G. D. (2006). El Modernismo Musical Brasileño. In: Ricardo Bernardes (Org.). Textos do Brasil: Música Clássica Brasileira (12ª ed., Vol. 12, pp. 62-67). Brasília: Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Hoefs, L. (2023). Villa-Lobos’ Bachianas Brasileiras nº 1: representation of Brazilian identity through the invention of the Cello Ensemble Genre. Revista De Estudios Brasileños, 9(20), 31–42.
Moreira, G. F. (2014). A construção da sonoridade modernista de Heitor Villa-Lobos por meio de processos harmônicos: um estudo sobre choros. Tese de doutorado, Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.