BMQS: Conversando com um pajé

Emissão com fragmentos selecionados da conferência ministrada por Kamarati Kamanawa, líder do povo Kamanawa Noke Koi (Acre, Brasil).

Esta entrega especial de BMQS traz alguns fragmentos selecionados da conferência que o líder indígena Kamarate Kamanawa, do povo Noke Koi (Acre, Brasil) ministrou no CEB em 13 de novembro de 2024. A conferência se intitulava “Conversando com um pajé: resistência e cultura Noke Koi em tempos de mudança”, com a moderação de Virgilio Bomfim, e a participação de Eduardo Ogasawara e Monica Wano.

Virgilio Bonfim é doutor em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, Brasil) e ativista, fundador de associações socioambientais na Amazônia. Sobre suas pesquisas acerca dos povos indígenas, ele tem ministrado conferências e seminários em diversos países, além de ter publicado capítulos de livros e artigos, como o intitulado “Cultura em nossas mãos: pontes semânticas entre as populações indígenas e a sociedade ocidental na era dos projetos“, publicado na Revista de Estudos Brasileiros.

A emissão começa com uma breve apresentação (em espanhol) de Virgilio Bonfim sobre a necessidade de escutar os povos indígenas e líderes como Kamarate Kamanawa.

Kamarati Kamanawa é um reconhecido líder indígena, que na conferência compartilhou sua experiência e conhecimento sobre as mudanças que vêm transformando a vida de seu povo na Amazônia. Kamarati fala dos desafios atuais que a comunidade enfrenta, desde a luta de seu povo para defender o território onde vivem, além da importância do conhecimento dessas comunidades para a formulação de respostas a problemáticas como a mudança climática. A presença de Kamarati Kamanawa em Salamanca tinha como objetivo apresentar em primeira pessoa os desafios que seu povo enfrenta hoje: a necessidade de ajuda para melhorar a educação, a saúde e a segurança alimentar na comunidade.

Na primeira parte do áudio, Kamarati Kamanawa comenta que seu povo tem dificuldades para falar português, pois continuam falando sua língua original, que é uma forma de reforçar e proteger sua cultura, mas, como veremos mais adiante, isso também traz muitas limitações. “Hoje, estamos em dois mundos”, assim se refere Kamarati Kamanawa quando fala da necessidade que sua comunidade tem de aprender português, já que a chave para a sobrevivência da comunidade passa, entre outros aspectos, pelo diálogo sustentável com a sociedade não indígena.

Em relação à saúde, a mudança climática traz doenças desconhecidas por essas comunidades, por isso precisam ter acesso a tratamentos médicos. Finalmente, em relação à segurança alimentar, ele explica que a comunidade vem crescendo, mas suas formas de vida através da caça e pesca estão ameaçadas, também, em grande parte pelo impacto ambiental.

Monica Wano apresenta o trabalho da associação ambiental @vivaaaldeia junto ao povo Noke Koi. Os projetos que desenvolvem partem da própria cultura do povo, e tentam manter o frágil equilíbrio entre a preservação da cultura tradicional e sua ancestralidade, em diálogo com a cultura não indígena. Sua intervenção é muito sensível ao contexto da comunidade, e fala que seu trabalho com a associação é de apoiar para que eles mesmos encontrem a maneira de manter seu modo de viver em um contexto de muitas mudanças produzidas pelos não indígenas.

Na terceira parte desta entrega, Eduardo Ogasawara, presidente do Instituto Vinoshuvo (São Paulo, Brasil) aborda as dificuldades pelas distâncias e o tempo de deslocamentos que, muitas vezes, tornam complicado o acesso à assistência médica. Em relação ao instituto, comenta que a “Medicina da floresta” vem ajudando a enfrentar doenças urbanas, como as dependências químicas, em geral.

Ainda nesta entrega, o líder indígena Kamarati Kamanawa fala sobre o território, sobre a demarcação das terras indígenas. O território onde vivecom o seu povo é cortado por uma rodovia, que comunica o Brasil com outros países, e que é rota de tráfico de drogas, uma situação que provoca atropelamentos, ameaças aos indígenas e invasão de suas terras.

Na última parte do áudio, escutamos o “canto de pajé”, uma canção de alegria na voz de Kamarati Kamanawa. 

Brasil es mucho más que samba é um programa do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, emitido todas às terças-feiras, às 17h30, em Rádio USAL. Para sugerir uma pauta ou contatar com a equipe do programa, escreva ao masquesamba@usal.es

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