BMQS: a crise de dengue no Brasil

Podcast oferece duas entrevistas com biólogos da Fiocruz, que falam sobre a atual crise de dengue no Brasil e como enfrentá-la.

Esta entrega de #BMQS traz duas entrevistas com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, Brasil) sobre um dos temas mais relevantes da atualidade brasileira: a crise de dengue no país.

Na primeira parte do programa, conversamos com a pesquisadora Rafaela Vieira Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos (LABIMI) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC, Brasil), da Fiocruz. A entrevista foi gravada em 8 de março, portanto, os dados mencionados na entrevista se referem a esse período.

De acordo com os dados do Centro de Operações de Emergências do Ministério da Saúde do Brasil, e com data de 8 de março, estima-se uma cifra de 1.342.086 prováveis casos, com maior incidência nas regiões sul-sudeste do país e no estado do Acre.

No site do Ministério da Saúde, ainda é possível encontrar outras informações sobre o combate à dengue no país, além de outros dados como séries históricas de casos, com uma ferramenta muito útil, chamada “Painel de Monitoramento”.

Segundo as informações do Ministério da Saúde do Brasil, a primeira epidemia de dengue documentada foi em 1981-1982, em Boa Vista (Roraima). Em 1986, foram registrados casos no Nordeste e no Rio de Janeiro, e desde essa data a dengue vem ocorrendo de forma endêmica, e com um padrão sazonal, com aumento de casos especialmente entre os meses de outubro e maio.

E como parte do seu compromisso com a sensibilização da comunidade sobre arboviroses, o LABIMI, desde 1997, pesquisa os insetos vetores de doenças tropicais, sua genética molecular, a evolução do seu comportamento, principalmente em mosquitos, que é o caso do Aedes aegypti, transmissor da dengue. O LABIMI também desenvolve atividades de divulgação científica e sensibilização da comunidade escolar sobre arboviroses e controle de mosquitos, para a elaboração de materiais educativos para a capacitação de profissionais de educação e de saúde.

No Laboratório de Biologia Molecular de Insetos, a gente vem trabalhando há muitos anos com o estudo de comportamento dos insetos vetores, que são aqueles insetos que transportam patógenos causadores de doença. Então, o nosso principal modelo de estudo é o Aedes aegypti. A gente estuda os genes que controlam o comportamento desse inseto, e que fazem com que ele tenha determinado comportamento. Então, o que é que acontece quando ele está infectado por determinado vírus? Ele fica mais ativo? Ele coloca mais ovos? Ele tem preferência por picar mais pessoas ou não? Então, é esse tipo de pergunta científica que a gente tenta responder no laboratório (...). E ao mesmo tempo, a gente tem uma preocupação muito séria em conhecer a biologia do mosquito, e contar para as pessoas quem é esse mosquito, porque a gente entende que só conseguimos fazer ações de controle, sensibilizar a população a respeito de um vetor, quando a gente conhece ele.

Porém, além de pesquisa e conhecimento científico, a cidadania também deve fazer a sua parte, que é fundamental para combater o mosquito da dengue. E como se faz isso? Segundo a pesquisadora Rafaela Bruno, o mais importante é eliminar os criadouros, ou seja, o lugar onde a fêmea do Aedes aegypti coloca seus ovos. E quais são esses lugares? Lugares com água limpa (não precisa ser água potável) e parada. Por exemplo:

  • vasinho de plantas: se não for possível retirar o prato do vaso de plantas, “colocar terra para evitar que acumule água ali”.

  • vasilhames de comida de animais domésticos, garrafas, baldes, “até uma tampinha de garrafa pet pode ser um bom criadouro para a fêmea do Aedes aegypti”: tentar eliminar os recipientes que possam juntar água ou “guardá-los de boca para baixo”.
  • calha de ar-condicionado, caixa d’água: “é preciso observar se essa caixa d’água está bem fechada, a fêmea não pode encontrar nenhum buraquinho, que ela pode entrar e colocar os seus ovos ali”.
  • piscina: lugares como piscinas, que não podem ser fechados ou cobertos, a recomendação é tratar adequadamente essa água.

Na entrevista, a bióloga Rafaela Bruno conta que o ciclo de vida do mosquito é de 7 a 10 dias desde o ovo até a fase adulta, por isso, ela recomenda revisar nossas casas e vizinhança semanalmente.

IMPORTANTE: 10 minutos por semana

Do ovo até o adulto, o ciclo de vida do mosquito leva cerca de 7 a 10 dias. Então, se a gente gastar 10 minutos por semana, a gente consegue impedir esse ciclo do mosquito. A gente precisa adquirir esse hábito, ter essa disciplina, de pelo menos uma vez por semana, a gente olhar para dentro das nossas casas, olhar o entorno das casas e a procurar esses locais, e fazer isso que eu acabei de falar, a gente eliminar sempre que possível, se não for possível eliminar, a gente tratar ou deixar bem fechado para evitar que a fêmea consiga colocar seus ovos.

No site do Ministério da Saúde, a gente encontra também informação sobre sinais e sintomas da doença de dengue, por exemplo, febre, dor abdominal, vômitos persistentes, entre muitos outros. Portanto, devemos estar alertas a todos esses sintomas e procurar um posto de saúde, procurar ajuda médica.

E há uma excelente notícia: o Brasil é o primeiro país no mundo a oferecer o imunizante, a vacina, com os quatro sorotipos, através do Sistema Único de Saúde, o SUS. Atualmente, a faixa etária que está recendo a vacinação são as crianças de entre 10 e 14 anos.

A vacina é aplicada em duas doses com intervalo de 90 dias entre a primeira e a segunda dose, e é importante que as pessoas se vacinem, porque a dengue pode ser fatal, ela é grave, ela pode ser uma doença grave, as vacinas ajudam a diminuir esses riscos, ajudam a evitar que a gente pegue dengue, ela tenha uma eficiência muito boa para os quatro sorotipos de dengue, então, o ideal é que as pessoas procurem os postos de saúde, na faixa etária que está sendo disponibilizada no serviço público, e que as pessoas tentem tomar também no setor particular se for possível, porque é bastante importante.

A pesquisa científica é fundamental para combater essa e outras doenças, e esse conhecimento é transmitido à cidadania de muitas maneiras. Uma delas é através de ações de divulgação científica, que fortalecem a cultura científica de uma sociedade. Por isso, na segunda parte do programa, conversamos com o biólogo do Museu da Vida Fiocruz, Waldir Ribeiro, que tem pós-graduação em Educação profissional pela Escola Politécnica Joaquim Venâncio, da Fiocruz, e é um dos curadores da exposição “Aedes: que mosquito é esse?”.

Em 2004, o Museu da Vida Fiocruz inaugurou a exposição “Dengue”, com o apoio da rede de Ações Integradas de Atenção à Saúde e Controle da Dengue, coordenada pela vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz. Com o passar dos anos, e o aumento do número de casos de doenças relacionadas com arboviroses,

isso nos impulsionou a desenvolver essa exposição, que abordasse esse tema de saúde pública, dando uma resposta no sentido de conscientizar as pessoas da importância da participação popular no processo de controle da Dengue

Um dos aspectos fundamentais na concepção da exposição era o impacto visual.

Esse impacto visual se deu na concepção de um modelo de aproximadamente mais de 2 m, de um modelo de uma fêmea do Aedes aegypti, que tivesse esse impacto visual, que chamasse a atenção do visitante para as características desse inseto tanto na sua estrutura morfológica como também na sua concepção de habitats, de alimentação, de reprodução.

A partir daí, a exposição foi ganhando cores chamativas e recursos tecnológicos diversos, que permitem que os visitantes tenham uma experiência ímpar durante o percurso dentro da exposição.

Para Waldir Ribeiro, a exposição “Aedes: que mosquito é esse?” é atemporal, porque os seus recursos tecnológicos disponibilizados permitem que a mostra esteja conectada a uma rede de dados que se mantém atualizada.

O TeamBoard que é um quadro que serve para apresentar informações em tempo real a gente pode é ter acesso à rede mundial de informação, a OMS, para poder é passar independente do local onde essa exposição esteja montada, ela pode trabalhar com informações locais. Os próprios totens têm a possibilidade e a capacidade de atualização em relação à informação. Então, a gente costuma colocar que essa exposição é atemporal, porque ela sempre pode passar por atualizações.

Cabe destacar que a nova temporada de “Aedes: que mosquito é esse?” é uma iniciativa do Museu da Vida Fiocruz, da Casa de Oswaldo Cruz e Fundação Oswaldo Cruz, com a gestão cultural da Associação Amigos do Museu da Vida Fiocruz e apoio da Rede Dengue, Zika e Chikungunya da Fiocruz, e que tem o patrocínio da SC Johnson.

E tem mais, como comenta Wladir Ribeiro na entrevista, a exposição está totalmente virtualizada! Clica aqui e confere a exposição “Aedes: que mosquito é esse?”.

Agradecimentos: aos pesquisadores Rafaela Bruno e Waldir Ribeiro, e aos assessores de comunicação Haendel Gomes, do Museu da Vida da Fiocruz, e Vinicius Ferreira, do Instituto Oswaldo Cruz.

Entrevistados:

Rafaela Vieira Bruno é bióloga, doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Brasil). Desde 2008, é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, e atualmente é chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos (LABIMI).

Waldir da Silva Ribeiro é biólogo, com pós-graduação em Educação profissional pela Escola Politécnica Joaquim Venâncio, da Fiocruz.

Brasil es mucho más que samba é um programa do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, emitido todas às terças-feiras, às 17h30, em Rádio USAL. Para sugerir uma pauta ou contatar com a equipe do programa, escreva ao masquesamba@usal.es

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