O programa #BMQS começa a temporada 2022-2023 em Rádio Universidade de Salamanca com uma entrega especial dedicada ao tema do Bicentenário da Independência do Brasil. A emissão traz uma entrevista ao Prof. José Manuel Santos Pérez, professor titular de História da América, e que desde o último mês de maio volta a assumir a direção do Centro de Estudos Brasileiros. Entre 2014 e maio de 2022, José Manuel Santos foi co-diretor da Revista de Estudios Brasileños, e desde 2013, é o diretor do grupo de pesquisa “Brasilhis. Historia de Brasil y el Mundo Hispánico en perspectiva comparada”.
A primeira parte da entrevista esteve dedicada ao bicentenário da Independência do Brasil. Partindo de um olhar histórico e historiográfico, falamos sobre os principais fatos e protagonistas do processo de Independência, e de obras e autores incontornáveis para aproximar-nos ao tema.
O 7 de Setembro é a data marco para celebrar a Independência do Brasil, já que nesse mesmo dia no ano de 1822, o futuro D. Pedro I teria gritado “Independência ou morte” às margens do rio Ipiranga, em São Paulo. Se nos distanciamos do romantismo que envolve o episódio, nos deparamos, hoje, com um bicentenário que, nas palavras do entrevistado:
Pero, efectivamente, es un bicentenario que, de cierta manera, Brasil, probablemente, no aproveche de la misma manera que Estados Unidos aprovechó su propio bicentenario de la independencia. Y eso nos lleva a que el Bicentenario, al final, va a quedar, fundamentalmente, como una cuestión de historiadores. Tal vez esa cuestión de por qué Brasil no lo celebra como Estados Unidos es porque no hay un consenso en la historiografía brasileña sobre el significado del 7 de septiembre (…) Pero, lo que los historiadores han cuestionado fundamentalmente es si realmente Brasil en el 7 de septiembre accedió a la independencia, a una independencia real.
José Manuel Santos
Além de considerar os debates ainda vigentes na historiografia da Independência, somamos a isso a entrada de novos personagens e temas no debate, entre eles, o protagonismo das mulheres. Sobre o tratamento do tema na historiografia brasileira, José Manuel destaca:
Yo creo que más que buscar figuras femeninas pretendiendo sustituir a los protagonistas masculinos, la vía historiográfica que se ha abierto más pertinente y Andrea Slemian, es una de las historiadoras representantes -que, por cierto, tiene un texto fantástico en el libro que estamos a punto de publicar 1822 Independencia, que va a salir ahora por ediciones Universidad de Salamanca- lo que hace Andrea Slemian es estudiar efectivamente cuál era el papel de las mujeres en la sociedad, cómo las mujeres, de alguna manera, en algún momento puntual tuvieron un cierto papel y cómo esa sociedad nace como estado nación.
José Manuel Santos
Ainda na primeira parte da entrevista, falamos sobre leituras incontornáveis para aproximar-nos ao tema da Independência do Brasil. Para começar, o entrevistado recomenda a leitura de Manuel de Oliveira Lima, mais especificamente, a obra Dom João VI no Brasil (Typ. do Jornal do commercio, 1908), uma obra escrita no início do século XX e que, apesar de inscrever-se numa tradição da vieja historia, ainda é uma obra relevante nos dias de hoje. Seguimos com obras publicadas no contexto da renovação historiográfico dos anos 70, para José Manuel:
no podemos dejar de leer las publicaciones de Carlos Guillermo Mota y de Fernando Novais; fueron dos autores absolutamente fundamentales para la renovación de los estudios históricos. Ahora se acaba de reeditar el libro colectivo que editó Carlos Guillermo Mota en 1972, 1822 Dimensões (Ed. Perspectiva, 2022), en donde están artículos absolutamente fundamentales tanto de Fernando Novais como de Maria Odila da Silva.
José Manuel Santos
E fechando a lista de recomendações, os trabalhos de Márcia Regina Berbel, João Paulo Garrido Pimenta, István Jancsó e Helio Franchini.
Na segunda parte da entrevista, falamos sobre os Estudos brasileiros, como campo de conhecimento e, claro, sobre brasileñisno. Como grandes autores do campo dos Estudos brasileiros, assim como acontece com o hispanismo, as referências imediatas são historiadores norte-americanos e ingleses, como Stuart Schwartz e Thomas Skidmore. Não obstante, o brasileñismo “vai muito bem de saúde”, e cada vez ganha mais visibilidade na Espanha, com pesquisas sobre temas mais contemporâneos, como as migrações entre ambos os países até temas de história colonial.
E como boa amostra disso, deixamos aqui as recomendações de leitura (em espanhol), de obras de história do Brasil publicadas ou com acesso nessas bandas de cá.
Historia de Brasil, una interpretación, escrito por Carlos Guillermo Mota e Adriana López (Ediciones Universidad de Salamanca, 2009).
Brasil una biografía, de Lilia Schwarcz e Heloisa Murgel Starling (Debate, 2016).
Plaza del mundo historia informal de Brasil, de Carlos Sixirei (Verbum, 2019).