BioBrasil especial: entrevista com José Julio Rodríguez e Blanca de Azcárate

Emissão especial de BioBrasil com uma entrevista aos autores do livro "El ferrocarril del diablo".

Neste especial de BMQS, oferecemos a entrevista com José Julio Rodríguez Hernández e Blanca de Azcárate Luxán, autores do livro El ferrocarril del Diablo, publicado em 2022 pelo Ministério de Inclusão, Seguridade Social e Migrações. A obra foi apresentada no Palácio de Maldonado em 28 de março e aproveitamos a ocasião para um bate-papo com os autores.

A ferrovia do Diablo

Logo no início da entrevista, José Julio Rodríguez revela a temática do livro, com um título tão intrigante. A obra narra a odisseia do inspetor de emigração Leopoldo D’Ozouville que, em 1912, visitou o Brasil para conhecer as condições de trabalho dos imigrantes espanhóis durante a construção da chamada “Ferrovia do Diablo”, a linha que conectava Madeira e Mamoré, na região amazônica.

Em 1908, foi criado um corpo de inspetores para tutelar os emigrantes espanhóis que, na época, partiam em grandes contingentes para a América. A travessía era realizada em barcos, normalmente de companhias estrangeiras. Com os relatórios elaborados pelos inspetores José Julio Rodríguez e Blanca de Azcárate publicaram um livro intitulado Pasajeros de tercera clase, que era como se denominavam os emigrantes. Durante o trabalho de documentação para escrever a obra, descobriram um o inspector Leopoldo D’Ozouville, que além de se ter aventurado até a floresta amazônica para comprovar as condições dos trabalhadores espanhóis, que procediam da Península Ibérica e de outras partes de América, como o Canal do Panamá e Cuba.

Trabalhar (e morrer) na floresta

Mas, em que condições trabalhavem os emigrantes espanhóis na Ferrovia do Diabo? José Julio Rodríguez explica que a situação dos trabalhadores espanhóis na construção da linha Madeira-Mamoré dependia de dois fatores. Em primeiro lugar, as próprias dificuldades impostas pela floresta. Cabe recordar que corria o ano de 1912, antes da descoberta da penicilina, e a malária, assim como outras doenças tropicais, ceifavam muitas vidas diariamente. Também não havia estradas nem outras formas de deslocamento além dos leitos dos rios. Era muito difícil conseguir atenção médica ou qualquer tipo de medicação. Os trabalhadores de origem europeia padeciam também com o calor e a intensa humidade, que provocavam desmaios e desidratação.

Em segundo lugar, estavam as duras condições impostas pela empresa construtora, que variavem desde o atraso no pagamento dos salários até o não pagamento de indenizações por falecimento.

Uma imagem vale mais do que mil palavras

Blanca de Azcárate conta que para escrever os dois livro – Pasajeros de tercera clase e El Ferrocarril del Diablo – consultaram aproximadamente 50 memórias de inspetores de emigração na Biblioteca do Ministério. Eram documentos manuscritos, alguns deles em precário estado de conservação, acompanhados de material adicional, que puderam aproveitar nas obras.

Além da ferrovia, há fotografias do fotógrafo americano Dana Merrill, contratado pela empresa para documentar a obra. Até 1915, Merrill fez umas 2 mil placas, muitas delas se queimaram. Mais tarde, as imagens foram recuperadas pelo português Manoel Rodrigues Ferreira, que editou um livro (A ferrovia do Diabo) sobre a construção da linha. Algumas fotos não têm boa qualidade em termos técnico, mas dão um bom testemunho da paisagem natural e humana da época, e das calamitosas condições dos trabalhadores.

Despedimos este especial de BioBrasil agradecendo a José Julio Rodríguez Hernández e Blanca de Azcárate Luxán pela oportunidade da entrevista. O vídeo com a apresentação do livro está nisponível no canal de YouTube do CEB e o livro está disponível para download gratuito no portal da cidadania espanhola no exterior.

Para saber mais

González Martínez, E. Los inmigrantes escogidos: los pequeños propietarios españoles en la Amazonía brasileña. Baixe aqui o artigo.

Lima da Silva, A. “Inhospitalarios parajes”: representatações da Amazônia no relato de viagem do inspetor espanhol Leopoldo D’Ozouville. Baixe aqui o artigo.

https://www.youtube.com/watch?v=xuijzN__71s
Apresentação do livro “El ferrocarril del Diablo”

Música no programa

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