BioBrasil: entrevista Flavio García

Conversamos com um dos maiores especialistas em "insólito literário", um guarda-chuva sob o qual se abrigam gêneros tão diferentes como o terror, ficção científica, fantasia e suspense.

Nesta emissão de #BMQS falamos com o professor Flavio García, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ, Brasil), um dos maiores especialistas no que se conhece como “insólito literário”. Flavio García lidera o grupo de pesquisa do CNPq “Nós do Insólito: vertentes da ficção, da teoria e da crítica”, além de participar como pesquisador nos grupos “Vertentes do Fantástico na literatura” e “A narrativa ficcional para crianças e jovens”. Também é membro fundador do Grupo de Trabalho ANPOLL “Vertentes do Insólito Ficcional” e forma parte das equipes do Centro de Literatura Portuguesa (CLP) da Universidade de Coimbra (Portugal) e do Grupo de Estudios de lo Fantástico (GEF) da Universitat Autónoma de Barcelona (Espanha). Em sua companhia, entraremos num mundo fabuloso e surpreendente.

Esclarecendo conceitos: o que é o insólito literário?

Para Flavio García, o insólito trata de uma narrativa macro-estruturada, na qual o discurso interage com o mundo da ficção a partir da configuração de personagens, espaços, tempos e, inclusive, de rupturas com o relato, que se afastam das referências do mundo objetivo em que vivemos.

O insólito literário, assim, é um amplo paraguas um guarda-chuva sob o qual se abrigam gêneros tão diferentes como o terror, ficção científica, fantasia e suspense e suas variações. Por isso, categorizá-la em algum “gênero” seria restritivo e limitado. A característica comum a qualquer texto insólito é o uso do inesperado, assombroso ou desconcertante, aquilo que deixa o leitor sem fôlego, e provoca, como diz Flavio, uma certa “surpresa incômoda, uma insatisfação”.

Em resumo, o insólito está próximo do maravilhoso, porque ainda que nos encontremos diante de uma maravilha, ela também assusta.

Uma forma insólita de chegar ao destino

Durante a entrevista, perguntamos a Flavio García o motivo do seu interesse no insólito literário e a resposta foi incrível! Ele conta que estava em Santiago de Compostela num curso de verão e entrou numa livraria. A dona da loja, uma mulher rodeada por gatos, lhe disse que só lhe venderia as obras que queria se levasse também a obra Percival e outras historias de Xosé Luís Méndez Ferrín. Flavio aceitou a condição, e devorou o livro numa tarde! Ficou tão fascinado, que decidiu mudar o tema da tese de doutorado, que era sobre literatura medieval, para escrever sobre realismo mágico – outra forma de insólito -, nas obras de Méndez Ferrín e do português Mário de Carvalho.

No ano seguinte, voltou a Santiago e procurou pela dona da livraria para agradecê-la pela obra que havia mudado a sua vida. Foi uma lástima descobrir que aquela mulher havia falecido uns meses antes.

O insólito na língua portuguesa

Para Flavio García, a ficção do insólito vive um momento exuberante no Brasil. Nos últimos vinte anos, houve um boom de publicações, não só de obras de ficção, mas de trabalhos de crítica e pesquisa (monografias, dissertações, teses de doutorado…) que permitem aprofundar no tema a partir de diferentes perspectivas.

Flávio destaca especialmente dois gêneros que, além da escritura, incluem certa estética específica: o fantástico, em sentido mais amplo, e o gótico.

E para conhecer mais sobre este gênero, recomendamos começar por Murilo Rubião, um mineiro que só escreve contos publicados em revistas e jornais, mas que é um ponto de inflexão no insólito.

Nas redes sociales, recomendamos seguir Roberto de Sousa Causo. Escritor, crítico, organizador de antologias… Causo já foi entrevistado aqui no #BMQS, confere o podcast dedicado à literatura de ficção científica brasileira.

Nesta direção, temos Bráulio Tavares, com um amplo saber pragmático. Os dois são muito ativos nas redes e seus trabalhos e antologias são uma boa maneira de entrar no mundo do insólito.

Agradecemos a Flavio García pela oportunidade da entrevista, e por conhecer mais sobre sua obra e o insólito literário no Brasil.

Para saber mais

García, F. A questão do insólito nas narrativas curtas de X. L. Méndez Ferrín: um problema de gênero literário.

García, F. As incoerentes personagens insólitas nas narrativas curtas de Mia Couto.

García, F. (Org.). A banalização do insólito: questões de gênero literário.

Roas, D. Lo fantástico en las narrativas de Latinoamérica.

Dicionário Digital do Insólito Ficcional – e-DDIF.

Grupo de Estudios sobre lo Fantástico (GEF). Universidad Autónoma de Barcelona.

Música no programa

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