BioBrasil: entrevista Enrique Ambrosio

Conversamos com o empresário e fotógrafo Enrique Ambrosio, autor da exposição "Flujo y reflujo. Una historia de bahianos en África".

Nesta edição de BMQS, entrevistamos Enrique Ambrosio, empresário, fotógrafo e geógrafo humano, que ao longo de 45 anos trabalhou em diversas partes do mundo nos setores de turismo e aviação comercial. Ele já viveu em países como Tailândia, Grécia, Reino Unido, Estados Unidos e, desde 2013, no nordeste do Brasil (especificamente em Salvador e Recife). Atualmente aposentado, Enrique está dedicado ao mundo da fotografia, da qual é um entusiasta autodidata.

Com essa última faceta, trouxe ao CEB a exposição “Fluxo e refluxo. Uma história de baianos na África”. A mostra reúne uma pequena parte das imagens apresentadas na exposição “Retornados”, que esteve em exibição no último mês de fevereiro de 2024 na Casa do Brasil, em Madri.

Baianos na África?

A exposição nos aproxima da história dos Agudás, um grupo étnico localizado no Benim (África) e formado pelos descendentes de antigos escravizados negros que, a partir do Brasil, retornaram às suas terras de origem em três ondas migratórias ao longo do século XIX. Segundo nosso entrevistado, com essas imagens:

O que pretendo demonstrar é o paralelismo que existe entre as pessoas que viviam e aprenderam a viver no nordeste do Brasil, especialmente em Salvador, e aquelas que hoje habitam o antigo Daomé, atualmente Benim. Dei o subtítulo ‘E acontece que são baianos’ porque Gilberto Freyre, que foi o mais importante sociólogo brasileiro (...), ao retornar de sua viagem ao Benim, disse: ‘Estive lá, mas acontece que são baianos’. Como quem diz, não sei por que fui, se isso é a Bahia.

Os Agudás eram compostos, de um lado, por antigos escravocratas que controlavam o tráfico negreiro com as Américas e, posteriormente, por antigos escravizados libertos, de diferentes grupos, que decidiram retornar à África, muitas vezes sem saber exatamente qual era sua terra de origem.

Enrique comenta que essas pessoas, de origens tão diversas, tinham três características em comum: vinham do Brasil, falavam português e, em sua maioria, eram católicas.

Durante sua estadia no Brasil, aprenderam diversos ofícios ligados à construção, carpintaria, mineração, entre outros. Isso os levou a replicar construções no retorno à África, seguindo o modelo brasileiro, como no caso dos templos. O exemplo mais emblemático é a antiga mesquita de Porto-Novo, que mantém grandes semelhanças com a igreja barroca de São Francisco, em Salvador (Bahia, Brasil).

Entre eles, permanecem muitos sobrenomes de origem brasileira/portuguesa, como Souza, Silva, Almeida, Domingos, assim como festas típicas brasileiras, como a dedicada ao Nosso Senhor do Bonfim. Dançam a burrinha (uma forma arcaica do bumba-meu-boi), celebram o Carnaval, praticam candomblé, e comem feijoada.

Sobre o título da exposição, Enrique Ambrosio explica:

O título não é meu, é um título copiado. ‘O fluxo e refluxo’ foi o nome da tese de Pierre Verger, que foi fotógrafo, antropólogo e etnógrafo francês, viveu muitos anos na Bahia e morreu lá aos 93 anos. Essa foi sua tese, defendida na Sorbonne (...) Ele foi a pessoa que mais estudou todas as etnias que retornaram e formaram a etnia dos Agudás. ‘Fluxo e refluxo’ é em sua homenagem.

Explorando a exposição

Na segunda parte da entrevista, aprofundamos nos detalhes da exposição “Fluxo e refluxo. Uma história de baianos na África”. A mostra inclui fotografias de cerimônias religiosas, exemplos arquitetônicos e retratos de diferentes naturezas, alguns muito íntimos, como o de um sacerdote em pleno transe. Perguntamos a Enrique Ambrosio sobre as dificuldades do projeto, especialmente ao adentrar territórios sagrados em algumas ocasiões.

Ele nos conta que, na verdade, tudo foi muito fácil porque:

Ao conhecer um pouco da cultura, especialmente da parte religiosa, do candomblé – embora no Benim estejamos falando do vodu –, nas cerimônias em que estive presente, eles percebiam que eu entendia o que estava acontecendo e os respeitava em todas as suas práticas, então tive enormes facilidades.

O resultado dessa aproximação e respeito mútuo são as imagens que podemos apreciar na exposição, bem como no catálogo, disponível para download gratuito aqui.

Conheça Enrique Ambrosio

Enrique Ambrosio (Madri, 1955) é representante institucional para a Espanha da FEBTUR (Federação Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Turismo) e Assessor Cultural da Revista Estampa (Brasil). Ele também é membro do Trevo Clube de Salvador da Bahia e do Mallorca Photo Club.

Mestre em Fotografia pela renomada escola PhotoESPAÑA (2023), também realizou estudos na Lens e em outras escolas espanholas e brasileiras. Em 2023, concluiu no Centro de Estudos Africanos os cursos de Feminismos Africanos e Movimentos e Resistência na África.

“Fluxo e refluxo. Uma história de baianos na África” é a nona entre suas exposições individuais e coletivas. Atualmente, como menciona na entrevista, está finalizando outras duas mostras: Solstício e Paralelo 8 Sul, esta última em comemoração aos 50 anos de independência de Angola e seu paralelismo com a cultura brasileira.

Música no programa

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