BioBrasil: entrevista Duda Falcão

Conversamos com o editor, escritor e professor Duda Falcão, um dos fundadores do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica.

Nesta emissão de BioBrasil, oferecemos uma entrevista com um dos grandes conhecedores da literatura fantástica no Brasil: o escritor e editor Duda Falcão. O nosso protagonista, além de ser autor de oito livros e ter participado de várias coletâneas, com Cesar Alcázar e Christopher Kastensmidt, fundou o Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica, cuja missão é fortalecer a produção e divulgação do gênero no Brasil.

Todos os inícios são obscuros… ou não?

Natural de Porto Alegre, Duda Falcão é Licenciado em História, com especialização em literatura brasileira e, depois, um mestrado e doutorado em Educação.

Nunca quis ser escritor! Ainda criança, quis mesmo ser jogador de futebol, astronauta e até médico, mas isso era só para agradar a avó. Com 12 anos, conseguiu a sua primeira máquina de escrever e aí, tudo mudou! No Word analógico deu vida a suas primeiras histórias, com a imaginação fervendo por causa da leitura de grandes clássicos como Drácula, de Bram Stoker, Frankenstein, de Mary Shelly e as Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe, aos que mais tarde se juntaria Lovecraft, ao qual dedicou sua tese de doutorado.

Já na adolescência, chegaram os mestres contemporâneos Stephen King e Clive Barker, além de autores brasileiros como Machado de Assis. Mas, não só de papel vive o homem e Duda Falcão reconhece muitas influências do cinema, dos quadrinhos e até dos videogames. A saga Star Wars, o cinema de terror que assistia com o pai de madrugada ou o filme Furia de titanes (Desmond Davis, 1981), são algumas das obras audiovisuais que o marcaram como escritor.

Com 17 anos escreveu um relato breve intitulado “Mausoléu”. O texto ficou esquecido durante muito tempo, até que em 2013 deu título ao seu primeiro livro de contos. O resto, como se diz, já é história.

O processo criativo ou a maldição da “folha em branco”

Não basta ter boas ideias, é necessário trabalhar sobre elas. E por isso, preguntamos a Duda Falcão sobre o seu processo criativo. Como enfrenta a folha em branco? Escreve só sobre terror ou passeia por outros gêneros?

O nosso entrevistado confessa que não há truque:

Meu processo criativo está muito relacionado com a palavra “trabalho”, consiste em ligar o computador, sentar-me diante dele e começar a escrever…

Duda Falcão

No caso de relatos, normalmente o ponto de partida costuma ser um acontecimento, algo de sua vida cotidiana que lhe chame a atenção, uma frase de um livro, a imagem de um quadrinho… Mas quando se trata de um romance, a coisa muda. Nesse caso, precisa construir os cenários onde acontecerá a história, definir os personagens, em resumo, criar o mundo, o contexto, no qual surgem os conflitos e as motivações dos protagonistas.

Na entrevista, Duda Falcão afirma que o horror é seu campo preferido e que, quando adentra em outros gêneros, como as histórias de aventuras, ficção científica ou a fantasia, a sombra do medo acaba se projetado sobre elas.

O Anfitrião. Ilustração: Fred Macêdo

É o que ocorre com o seu primeiro livro de relatos Mausoléu (Argonautas, 2013), com 36 contos breves, onde vai provando gêneros diferentes, e seus personagens se movem entre o horror e a fantasia.

Treze (Avec, 2015), Comboio de espectros (Avec, 2017) e Mensageiros do limiar (Avec, 2021), seus trabalhos posteriores guardam uma conexão estética entre si, e compartilham um personagem, o Anfitrião, uma espécie de mestre de cerimônias que se encarrega de introduzir o leitor na história. Nesse sentido, Duda segue os Libros de Sangre, de Clive Barker, uma coleção de 6 volumes, que ecoa em seu trabalho. O quinto livro da série, Tumba do maestro, será lançado este ano, dando um passo mais para culminar sua brilhante hexalogia.

E para terminar, Duda Falcão destaca três de seus trabalhos. Em primeiro lugar, O estranho Oeste de Kane Blackmoon (Avec, 2019), um western que se desenvolve nos Estados Unidos no século XIX e que está protagonizado por um personagem que tem que transitar entre suas culturas indígena e ocidental.

Em segundo lugar, a sua tese de doutorado foi publicada com o título Representações culturais e pedagogia dos monstros no universo de H. P. Lovecraft (DM, 2021), trabalho no qual analisa os monstros saídos da mente do criador do horror cósmico e, por último, o seu trabalho mais recente Guia de literatura fantástica, um volume dedicado à escritura criativa, lançado pela editora Metamorfose.

Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica

Em 2012, Duda Falcão com Cesar Alcázar e Christopher Kastensmidt criou o Odisseia de Literatura Fantástica, um ponto de encontro para autores do gênero, no qual os escritores brasileiros podiam manter contato com o público mediante mesas redondas e apresentações de livros. Christian David sugeriu acrescentar aos debates um prêmio, cuja finalidade, nas palavras do entrevistado:

O prêmio tem como objetivo básico mostrar a produção de literatura fantástica brasileira e em língua portuguesa (…) também é um objetivo cultural, social, para atrair mais leitores, inclusive para formar leitores.

Duda Falcão

Ao longo do tempo, as categorias do Odisseia foram aumentando até chegar às 11 que ofrece este ano de  2024: três dedicadas a narrativas curtas de horror, ficção científica e fantasia, outras três para narrativas longas nos mesmos gêneros, uma categoria de narrativa juvenil, uma dedicada a artigos acadêmicos sobre o fantástico – que Duda espera que este ano esté muy concurrida -, e as categorias de melhor quadrinho e melhor projeto gráfico. Acrescente-se, pela primeira vez nesta edição, outra vinculada à Revista Odisseia de literatura fantástica, lançada em 2023, que consiste na seleção de três de narrativas curtas de horror, ficção científica ou fantasia para ser publicadas na revista. O nº 1 da Revista Odisseia de literatura fantástica está disponível para download gratuito neste link.

Esta é a 10º edição do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica. Este ano, se celebrará um primeiro encontro no mês de julho na Casa de Cultura Mario Quintana de Porto Alegre (Rio Grande do Sul), com várias mesas redondas. No final do evento, serão divulgados os nomes dos finalistas nas 11 categorias do prêmio. A premiação acontecerá no auditório do Centro Cultural Força e Luz, durante um final de semana com muitos encontros e com a participação de mais de 40 escritores (a data do acontecimento será divulgada em breve).

Para terminar, agradecemos a Duda Falcão a amabilidade em conversar com a gente. Foi uma grande satisfação contar com ele nos microfones de Rádio USAL.

BioBrasil é uma coluna do programa Brasil es mucho más que samba dedicada a divulgar a biografia de expertos, profesionais e personagens (históricos e atuais) da vida cultural, política e social brasileira. Brasil es mucho más que samba se emite todas às terças-feiras, às 17h30, em Rádio USAL. Para sugerir uma pauta ou contatar com a equipe do programa, escreva ao masquesamba@usal.es

Música no programa

https://www.youtube.com/watch?v=hD36s-LiKlg

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