BioBrasil: entrevista com Tales Völker

A atípica temporada de 2020 de BMQS termina com uma entrevista ao vencedor do concurso de relato breve do CEB, dedicado à Amazônia brasileira.

A edição de 2020 do concurso de relato breve do CEB aconteceu em plena pandemia de covid-19. O veredito do júri foi divulgado pouco tempo depois de um confinamneto que durou três meses. E graças à tecnologia, em #BMQS conversamos com Tales Völker, o vendecor do primeiro lugar no concurso, com o conto “Urucum, cor de sangue”.

O relato está disponível neste link. O texto nos coloca – literalmente – na pele de muitos jovens indígenas que têm que escolher entre a tradición ou a modernidade e para quem a vida n a cidade, fora da selva, significa muitas vezes a perda da própria identidade.

Sobre o autor

No início da entrevista Tales Völker que a sua formação está longe da área de literatura, na área de arquitetura e urbanismo. Ele trabalha no Conselho de Urbanismo do Rio de Grande do Sul, mas apesar disso sempre sentiu verdadeira paixão pelas letras. Desde pequeno, a família incentivava muito a leitura, de romances policiais, livros en inglês para praticar o idioma… e ele tem una ampla coleção de contos infantis, que agora pertence aos filhos. Tales Völker revela manter um bom costume: reserva sempre um tempo ao final do dia para a leitura.

Tales Völker também fala na entrevista sobre a cultura gaúcha, característica do sul do Brasil, seu lugar de nascimento, e do que ali chamam de “causos”, ou seja, histórias e lendas transmitidas oralmente através de relatos, canções e poemas,  que são para ele uma fonte de inspiração. O autor recomenda, assim, a obra do mestre Mario Quintana, cuja poesia evoluiu da métrica tradicional ao verso livre, do qual se transformou em mestre.

Tales conta que esta foi a segunda vez que participou do concurso. Na promeira vez que participou, o seu texto não foi selecionado, por isso, decidiu aprimorar a escritura, aperfeiçoar o texto, quase medindo cada palavra, até que o resultado lhe agradasse. Tales é um veterano dos concursos literários e já recebeu outros prêmios antes de vencer o concurso do CEB.

Sugestões de leitura: obras incontornáveis das letras brasileiras

Na segunda parte da entrevista, Tales Völker recomenda alguns autores e obras brasileiras, que devemos conhecer.

Em primeiro lugar, menciona Machado de Assis, o escritor de contos brasileiro mais exemplar, e de sua autoria recomenda o livro 50 contos de Machado de Assis, selecionados por John Gledson e editados pela Companhia das Letras. Igualmente, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Érico Veríssimo e Luis Fernando Veríssimo, o segundo filho do primeiro, e autor de vários relatos bem humorados como El analista de Bagé e A velhinha de Taubaté. No gênero “conto” destaca autores como Monteiro Lobato, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan, que só escreveu relatos breves, todos eles clássicos que não podem faltar em nenhuma estante.

À continuação, Tales se centra nas letras gaúchas e retoma os “causos”, mencionando alguns deles como a lenda do negrinho do pastoreio, uma história afro-cristã especialmente popular desde o final do século XIX e da qual já falamos em #BMQS. Paa quem quiser conhecer mais sobre este estilo, esta literatura, Tales recomenda a obra de João Simões Lopes Neto, Barbosa Lessa, Moacyr Scliar e Cyro Martins, de quem destaca a Trilogia do gaúcho a pé (formada pelos livros Sem rumo, Porteira fechada e Estrada nova) dedicada ao homem dos pampas. Claro que não podia faltar Mario Quintana, já mencionado, símbolo da cidade de Porto Alegre, onde podemos encontrar a Casa de Cultura Mario Quintana, localizada no histórico edifício do Hotel Majestic e onde acontecem muitos workshops literários, apresentações teatrais e concertos.

Para terminar, Tales conta que a música brasileira se confunde em ocasiões com a literatura e, assim, há compositores célebres como Chico Buarque, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Caetano Veloso que se aventuraram nas letras com bastante sucesso. Para quem gosta de MPB, recomendamos aqui o podcast do programa que dedicamos a alguns destes grandes gênios.

Mirando o futuro

Para terminar, Tales Völker conta que como projeto futuro pretende continuar escrevendo contos, com personagens na mesma linha do protagonista do relato “Urucum cor de sangue”: adolescentes de diferentes partes do país, com heranças culturais muito diferentes, que têm que enfrentar um mundo em constante mudança e cruel, que está disposto a lhes engolir. Os conflitos internos, a busca pela própria identidade e o medo ao futuro são comuns a todos os jovens do mundo.

Tales também conta que gosta de participar de concursos, porque isso lhe obriga a entregar textos com uma data determinada, fazendo com que rompa com o círculo vicioso da revisão infinita do texto. Ainda assim, incentiva a todos a escrever e participar de concurso literários, como o do CEB, cuja nova edição, dedicada ao universo do samba, já está aberta até 31 de março de 2023.

Música no programa

https://www.youtube.com/watch?v=7xMydSJy4zI
“Você é linda”, do disco Caetanear de Caetano Veloso. Dedicada à sua esposa Andreza.

Compartir

Relacionado:

Conversamos com o documentarista Juan Sánchez sobre um dos maiores expoentes do cinema de terror brasileiro: José Mojica Marins.
Da cor daquele céu é o livro da escritora brasileira Anlene Gomes de Souza, que nos leva a passear por Madri e outras cidades
Entrevistamos a cantora, compositora e multi-instrumentista brasileira Vanessa Borhagian por ocasião de sua turnê de concertos em Castilla y León.
Anterior
Próximo