Depois de umas pequenas férias, voltamos aos microfones da Rádio Universidade! E o tema que trazemos hoje é apaixonante e macabro: a literatura zombie. E para falar sobre esse tema, entrevistamos Rodrigo de Oliveira, romancista, autor da saga “As crônicas dos mortos”, com sete volumes, publicados pela Faro Editorial, onde os mortos vivos andam por diferentes cidades brasileiras. Sangue, descomposição e terror em estado puro para começar o novo ano… bem?
Chapter I: conhecendo o autor
Rodrigo de Oliveira vem de uma família humilde, que passou por muitas dificuldades econômicas. Apesar disso, a mãe sempre estimulou a leitura: em casa havia livros por toda parte, livros usados, de sebos, das bancas, emprestados da biblioteca… Rodrigo cresceu cercado pelas histórias de Agatha Christie e Machado de Assis e, além disso, teve a sorte de contar com bons professores, inclusive vivendo numa das zonas mais violentas de São Paulo.
Ele se formou, primeiro, como leitor e depois trabalhou seis anos numa das maiores distribuidoras de livros da América Latina. Isso lhe permitiu alcançar uma enorme quantidade de livros dos mais variados tipos. Nessa época, recorda ter lido mais de 1.000 livros.
Para Rodrigo, todas as pessoas que amam a literatura, mais cedo ou mais tarde, sentem a necessidade quase incontrolável de “contar suas próprias histórias, de criar seus próprios universos”. Ele começou a escrever o seu primeiro livro com pouco mais de vinte anos. Como não gostou do resultado, acabou deixando o projeto de lado. Essa má experiência lhe levou a refletir sobre a sua capacidade como escritor, chegando a pensar que, talvez, nunca escreveria seu próprio livro.
Os anos foram passando, ele se casou, chegaram os filhos… e então, uma noite, teve um pesadelo. Rodrigo estava vendo o filme Madrugada dos mortos, uma versão do clássico de George Romero de 1968 A noite dos mortos- vivos, e adormeceu. Ao fechar os olhos, teve um sonho realista, longo e terrorífico. Durante os dias seguintes, a história do sonho lhe perseguía, atormentando sua vigília, sem poder tirá-la da cabeça. Casualmente, nesse momento encontrou uma entrevista de André Vianco, na qual o autor de Os sete, dizia algo com o qual se identificou imediatamente: se você tem uma ideia que não te abandona, sente-se diante do computadoe e escreva, porque você é um escritor, mas ainda não se descobriu!
Essas palavras marcaram o seu destino. Esteve um ano se preparando, pesquisando, estruturando a história… e o resultado foi a saga “As crônicas dos mortos”, sete volumes que já venderam mais de 200 mil exemplares, e que é considerada a maior coleção de livros sobre apocalipse zombie da América Latina.
Chapter II: os nomes do “terror” brasileiro
Para Rodrigo de Oliveira, a literatura de terror brasileira vive um melhor momento, mas isso não significa que a situação seja realmente boa. Infelizmente, o Brasil continua sendo um país com muitos problemas na educação, pobreza, e muitas pessoas não têm hábito de leitura. Num país onde se lê pouco, o gênero do terror não é exatamente um sucesso.
Além disso, a literatura de terror continua arrastando o estigma de ser algo banal, puro entretenimento e, assim, não recebe o respeito que outros gêneros têm. Isso é surpreendente, porque muitos dos grandes mestres da literatura apostaram pelo, como Mary Shelly, Lovecraft e Edgar Allan Poe.
No entanto, isso vem se modificando nos últimos tempos. Autores, como o já mencionado André Vianco e Rafael Montes revolucionaram o terror brasileiro, criando um mercado que antes não existia, y que agora ocupam nomes como Marcos DeBritto, Victor Bonini, Marcus Barcelos, César Bravo… e uma infinidade de outros autores que estão dando nova vida ao gênero. Aqui no programa, tivemos a oportunidade de falar com alguns deles como Marcelo Amado, Eric Novello e o decano do terror Rubens Francisco Lucchetti.
Lentamente, mais editoras, com um bom marketing e uma boa distribuição, investem no talento local. Há uns anos, o Brasil conta com o Prêmio Aberst, dedicado especificamente às obras de terror e suspense, confiamos que daqui a pouco o gênero terá a visibilidade que se merece.
Chapter III: a fascinação pelos mortos-vivos
Mas, por que esse interesse pelos mortos-vivos?
O nosso escritor opina que há muita gente cansada da nossa sociedade, de ver as mesmas injustiças, os mesmos problemas aparentemente sem solução… Isso faz com que algumas pessoas desejem -secretamente- formatar a humanidade, um novo início para que as pessoas voltem a entender a importância da união, além das diferenças pessoais. Os zombies encarnam, de alguna forma esse “sentimento de reinício”, como diz Rodrigo, “de destruir tudo para começar de novo, e talvez, começar mejor”.
Ao contrário do que algumas séries como The Walking Dead, que presenta um futuro cruel onde as pessoas são inimigas umas de outras, e com a desculpa da necessidade de sobrevivência, cometem todo tipo de atrocidades, em seus livros Rodrigo de Oliveira aborda a questão do renascimento da sociedade de uma forma mais otimista. Mesmo que pareça ingenuidade, ele considera que as pessoas tendem a se unir e trabalhar juntas para lutar contra um inimigo comum: os zombies. Assim, ele gosta de pensar que, no fundo, suas histórias são um tributo à solidariedade.
Epilogue: além dos zombies
Mas, nem tudo é mortos-vivo! Como todo bom escritor, Rodrigo de Oliveira sempre está maquinando algo. Por exemplo, está agora metido na segunda parte de Os filhos da tempestade, livro publicado originalmente pela editora Planeta. Também está procurando editora para o seu segundo romance Quando eu quiser respirar, no qual fala do atual momento político brasileiro, especulando sobre o que aconteceria caso no caso de um atentado terrorista ao Congresso Federal.
Na linha apocalíptica, começou a escrever A guerra de Gaia, no qual todos os animais do planeta se voltam contra a humanidade. ISso é algo terrorífico, porque não estamos falando de coelhos zangados, mas de milhões e milhões de insetos ou centena de cabeças de gado prontos para te comer vivo…
E para terminar, Rodrigo de Oliveira menciona outro de seus trabalhos As vozes do Joelma, que escreveu com Marcos DeBritto, Victor Bonini e Marcus Barcelos. O livro trata de um dos piores incêndios em São Paulo, na década de 70, onde morreram quase 200 pessoas. O livro está sendo adaptado para o cinema, com o lançamento esperado para 2024.
Agradecemos muito a Rodrigo de Oliveira pela oportunidade da entrevista!