BioBrasil: autoras brasileiras de HQs

Entramos no universo dos quadrinhos brasileiros com cinco jovens e talentosas autoras, que você deve conhecer.

Hoje falo de uma das minhas grandes paixões, que começou quando ainda tinha 7, 8 anos, e o meu avô me deu o meu primeiro quadrinhos. Aqui na Espanha, se chamam cómics ou, como na época, tebeo.

Como em outras artes, os quadrinhos padecem muitos preconceitos. Há quem pense que só existe quadrinhos sobre super heróis ou personagens infantis, e por isso perdemverdadeiras maravilhas, do ponto de vista do roteiro e da arte gráfica, capazes de nos ensinar, caso tenham a oportunidade, de que há muito mais sob o sol.

Nesta emissão, combinando o meu lado feminista e a minha grande paixão da infância, para apresentar algumas ilustradoras e criadoras de conteúdo brasileiras, autoras de quadrinhos de grande qualidade, cujos trabalhos devem ser conhecidos.

Bianca Pinheiro: a magia do cotidiano

A primeira autora desta tarde é Bianca Pinheiro, uma carioca, radicada em Curitiba, formada em artes gráficas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR, Brasil) e com pós-graduação em quadrinhos pela Faculdade Opet. Ela começou a publicar webcomics em 2012, porém o seu trabalho deslanchou com o lançamento de Bear. Os protagonistas desta série são Raven, uma nemina pequena que está buscando os pais, e que adora falar, rir e, principalmente, comer, e Dimas, um urso pardo enorme, que adora o silêncio e a comodidade do seu abrigo.

Além deles, também está Oráculo, uma humana que tem um livro negro chamado “storyboard” onde reúne todo o passado e futuro e que ela é a única que pode lê-lo. Dona Pivara, uma capivara dona do bar da cidade das Charadas e que faz os melhores biscoitos da região; o rei G, que governou a cidade durante cinco anos e que agora busca um novo propósito na vida e o menino Lelda, um jovem com uma verdadeira alma de heroi, mas que ninguém lhe presta muita atenção. As histórias de Bear foram reunidas e publicadas por primeira vez em 2014, com um segundo volume lançado em 2015 e um terceiro em 2016. Bear também foi publicado na França, em 2017, pela editora La Boîte à bulles, com o título Raven et l’Ours.

Bianca é também autora de duas tramas de suspense, que valem a pena conhecer: Dora, lançada pela primeira vez em 2014 de forma independente e relançada depois em 2016 pela editora Mino e, Meu pai é um homem da montanha (2015), em colaboração com Greg Bert, que narra a história de uma mulher que volta às origens para tentar se conhecer.

Para terminar, mencionar dois trabalhos super premiados. Primeiro: Eles estão por aí (Editora Todavia, 2018), escrito por Greg Stella e ilustrado por Bianca, que conta a história insólita de dois seres com formas estranhas. O argumento não segue uma linha narrativa clara, deixando em aberto a possibilidade de várias interpretações. O romance foi finalista do Prêmio Jabuti de histórias em quadrinhos em 2019, ficou em terceiro lugar na edição de 2019 do Prêmio Grampo e venceu o Prêmio APCA de Literatura de 2018 na categoria “Infantil / Juvenil / Quadrinhos” (apesar de não estar dirigido a um público infantil). E, finalmente, Alho-poró, lançado em 2017 de forma independente e, até agora, o único trabalho da autora traduzido ao espanhol con o título Quiche de Puerro (Distinta Tinta, 2022). A história trata de duas amigas que saem para comprar alho-porró para preparar um quiche. A verdura se torna o fio condutor da trama que guia o leitor através de diferentes conversas, até chegar a um final inesperado. O livro, financiado através de crowdfounding, venceu o Troféu HQ Mix em duas categorias: “melhor publicação independente de autor” e “melhor publicação independente edição única”.

Mari Santtos: o empoderamento feminino

A segunda autora de quem falo hoje é Mari Santtos, alter ego de Mariana Santos, ilustradora, autora de quadrinhos e artista plástica, nascida e criada na cidade de São Paulo. Apaixonada pelos quadrinhos desde pequena, ela estudou Artes Visuais na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, e se especializou em desenho, e depois começou a trablahar como ilustradora independente.

Em 2015 publicou o seu primeiro quadrinhos, A Máscara de Togi, onde aborda de forma peculiar o tema do assédio escolar. O livro narra como Togi, um menino de 11 anos que sofre bullying por parte dos colegas, consegue que seus desejos se relizem depois de conhecer uma borboleta mágica que lhe entrega uma máscara com a qual pode ser o que quiser. Isso parece ser legal, mas também tem suas consequências, boas e más, porque no fundo, quando escolhemos, nos posicionamos e isso nunca é gratuito.

Em 2018, com outras 12 mulheres roteiristas e ilustradoras, ela participou do projeto Gibi de Menininha, criado por Germana Viana e no qual participavam também Ana Recalde, Camila Suzuki, Clarice França, Fabiana Signorini, Katia Schittine, Milena Azevedo, Renata CB Lzz e Roberta Cirne, Talessa K, com a capa de Camila Torrano. Mari Santtos foi a responsável por ilustrar a história “Fome” com roteiro de Clarice França. Gibi de Menininha recebeu o prêmio Ângelo Agostini como melhor lançamento e o troféu HQMIX como melhor publicação em 2019. Ainda nesse ano, Mari Santtos lançou dois novos títulos Sussurro ao mar, abordando outro tema complexo, a depressão e O coelhinho Militudo, com temas culturais, sociais e políticos.

Em 2016, com o Estúdio Gota de Areia, Mari criou o seu próprio comic autobiográfico, Toda Mari, no qual conta com muita graça e simpatia sobre a sua vida cotidiana e você podem seguir na página dela em Facebook. A protagonista de hoje tem uma temática única, dinâmica, empoderada que, apoiada num estilo inspirado no manga japonês, remete sempre ao movimento feminista. Pedimos mais? Claro que sim, convido que vocês lhe sigam nas redes sociais.

Mary Gagnin: uma Youtuber com muita arte

A terceira da tarde de hoje é Mary, – Mariana-, Gagnin. Formada em Artes Visuais pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), trabalhou como ilustradora para diversos livros e revistas de editoras como Globo, Abril e Mol. Entre seus trabalhos encontramos os quadrinhos Vidas imperfectas e, especialmente, os agraciado Bittersweet e Black Silence. Este último nos aproxima da uma Terra pós-apocalíptica, a ponto de ser destruída, onde dois astronautas, Lucas, um exobiólogo e Nee, uma militar com sólida reputação, devem descobrir o quê fazer para impedi-lo. A obra é a sua entrada na ficção científica e venceu o Troféu Ângelo Agostini de Melhor Design em 2017 e foi nomeada em até três categorias diferentes do prêmio HQMix. Além disso, e como se fosse pouco, a obra está disponível de forma gratuita e on-line.

https://www.youtube.com/watch?v=gJa7CnLxmSA&feature=emb_logo

Quase esquecia de dizer que Mary Gagnin tem um canal en YouTube onde publica conselhos para pintar e ilustrar e que conta com mais de 300 mil seguidores. Se você gosta de desenhar quadrinhos ou ilustração, dá uma olhada no canal, porque tenho certeza de que você vai gostar.

Rebeca Prado: um estilo diferente

Em quarto lugar, falamos de Rebeca Prado. Ilustradora e roteirista radicada na belíssima Belo Horizonte, Rebeca está licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, Brasil) e conta também com formação em cinema de animação. Entre os seus trabalhos mais importantes estão os livros Baleia #3 e Navio Dragão, que conta a história de Lif, uma meninca vikinga, honesta ao máximo e muito divertida. A obra foi lançada originalmente através de financiamento coletivo e foi publicada em um único  volume pela editorial Bast! em 2019, unindo o material original a outro inédito criado para a ocasião. Rebeca foi indicada três vezes para o HQMIX e, em 2019, recebeu o prêmio Ângelo Agostini na categoria de melhor fanzine pela publicação Credo(que delícia). Este é um projeto extremamente pessoal, com quadros reflexivos e uma pequena crônica, e além disso, publicado de maneira independente.

Chairim Arrais: uma “maga” do desenho

Antes de terminar, falamos de outro quadrinhos muito interessante e obra de uma grandeartista. trata-se de As aventuras da bruxinha Mô de Chairim Arrais. Chairim é paulistana e atualmente vive no interior de São Paulo, na cidade de Limeira. Está licenciada em Desenho Gráfico pela UNIP de Campinas e trabalhou vários anos em agências de publicidade. Um dia, ela decidiu que viveria dos quadrinhos… Bom, pelo menos tentou. Enquanto a fama vem chegando, ela continua trabalhando como ilustradora e tatuando.

As aventuras da Bruxinha Mô, conta as idas e vindas de Mô, uma jovem bruxa e seu companheiro, Darazar, um gatinho preto lindo. O personagem de Mô, uma criatura sonhadora, gentil e curiosa, surgiu num momento complicado da vida da autora e voltou a reaparecer quando tudo parecia termianr mal novamente, demonstrando que depois da tempestade vem a bonança. As aventuras da bruxinha Mô é uma webcomic, ou seja, que as histórias foram publicadas diretamente em internet, ainda que apareceram em livro pela editora Letra Impressa. Além da bruxinha, Chairim também é autora das séries Livro de conselhos do Gato Darazar, Purple Apple e Mare Rosso.

Resta-me somente desejar que você goste de todas as sugestões da tarde de hoje, te desejar um feliz verão.

Referências: editoras brasileiras dedicadas aos quadrinhos

Editora Mino: www.editoramino.com

Venetta: veneta.com.br

Zarabatana Books: zarabatana.com.br/

Editora Draco: editoradraco.com

Página web: Lady Comics, plataforma de debate sobre o papel da mulher na produção artística, além de vitrine para autoras dos mais variados gêneros. A equipe original encerrou suas atividades em 2018, mas o conteúdo continua disponível no portal e é muito interessante: http://ladyscomics.com.br/

https://www.youtube.com/watch?v=SUAi22MMgdo
“Baleia #3” de Rebeca Prado.

Música no programa

https://www.youtube.com/watch?v=FnGfgb_YNE8

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