No passado 18 de dezembro, entrevistamos a Renata Fontanetto, jornalista do Museu da Vida, instituição colaboradora na atual edição do concurso de relato breve “Cuéntame un cuento”. Na entrevista, falamos sobre as principais instituições brasileiras de divulgação científica e da memória da ciência brasileira. Além disso, ao longo do texto, o leitor encontrará diversas referências para aproximar-se ao mundo da Ciência no Brasil.
Elisa Duarte: Quais são os principais museus dedicados à Ciência no Brasil? Estas instituições disponibilizam acervos virtuais?
Renata Fontanetto: No Guia de Centros e Museus de Ciência da América Latina e do Caribe de 2015, que está disponível no site do Museu da Vida em espanhol e em inglês, vemos que existem mapeados, até o momento, 268 centros culturais no Brasil dedicados à ciência e à tecnologia. Este guia é um tesouro nacional porque traz informações importantes sobre museus brasileiros em diferentes estados de nosso país. No Brasil, eu gostaria de destacar o trabalho do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, que completou 200 anos em 2018. É a mais antiga instituição de preservação da ciência nacional desde a chegada da corte portuguesa às terras brasileiras. No ano em que completou 200 anos, o museu sofreu um incêndio de proporções gigantescas, destruindo grande parte de seu acerto, mas muito conseguiu ser recuperado das cinzas. Portanto, acho importante destacar o trabalho deste espaço museal, que ainda resiste.
Elisa Duarte: Quais fontes ou leitura você recomendaria para uma primeira aproximação a biografias de científicas e científicos brasileiros?
Renata Fontanetto: Em primeiro lugar, o projeto Pioneiras da Ciência no Brasil, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que mantém coleções sobre mulheres da ciência brasileira. Há outro livro de igual nome da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, disponível neste link, que também traz biografias de mulheres que marcaram a pesquisa brasileira nas mais diferentes áreas. Há uma série animada do Canal Futura de televisão, chamada “Um cientista, uma história”, que traz 30 biografias de cientistas no YouTube. Por último, eu destacaria as séries “Ciência em gotas”, da Casa de Oswaldo Cruz da Fiocruz, e “Cientistas do Brasil que você precisa conhecer”, do Nexo Jornal.
Elisa Duarte: Quais blogs, plataformas, etc. com informação científica atual ou de divulgação científica você recomendaria?
Renata Fontanetto: O site Cientistas Feministas, que reúne textos de divulgação científica de pesquisadoras de diferentes campos acadêmicos e regiões do Brasil; os selos de divulgação científica ScienceVlogs Brasil (de vídeos) e ScienceBlogs Brasil (de blogs); a lista “Divulgação Científica” no Twitter, com contas e perfis institucionais que trazem informações sobre ciência, tecnologia, saúde e meio ambiente, e todo o acervo da revista Ciência Hoje.
Elisa Duarte: Especificamente sobre a Fiocruz, quais recursos estão disponíveis na web para pesquisa sobre Ciência e Saúde no Brasil?
Renata Fontanetto: O acervo do Canal Saúde (canal público de televisão localizado dentro da Fiocruz) está disponível no YouTube. Há vídeos e reportagens sobre a saúde pública brasileira que podem render excelentes contos! Todo o acervo da Agência Fiocruz de Notícias é precioso, bem como a revista Radis Comunicação e Saúde de jornalismo científico, a revista Poli – Saúde, Educação e Trabalho e a publicação acadêmica “Histórias, Ciências, Saúde – Manguinhos”, com um repertório sensacional de artigos sobre a história da ciência e saúde pública brasileiras.
Elisa Duarte: E o Museu da Vida? Podemos encontrar um acervo virtual?
Renata Fontanetto: Sim! Visitem nossa seção “Acervo” em nosso site, onde é possível encontrar informações sobre objetos de nossa reserva técnica e o acervo de nossa biblioteca. A seção “Publicações” com livros gratuitos para download também pode trazer excelentes temas, ideias e inspirações.
Elisa Duarte: Finalmente, como você recomendaria uma aproximação ao tema das mulheres na Ciência (fontes, leituras, instituições, grupos de pesquisa etc.)?
Renata Fontanetto: Pelo viés inseparável dos marcadores sociais de raça, gênero e classe. Acho que não há como falar de gênero sem abordar a questão da raça no Brasil, por sermos um país que ainda carrega uma herança escravocrata muito pesada, determinante para relações sociais em nosso país e completamente associada ao racismo estrutural. O Brasil é um país extremamente racista. Então, entender quais são as mulheres que ingressaram primeiro na ciência, quais são as mulheres que ainda não têm acesso a estudo de qualidade, quais mulheres conseguem produzir ciência, quais são os vieses de gênero e para quem estamos produzindo ciência… são muitas questões, mas trago elas para lembrar que ciência elitista ainda é uma realidade. Portanto, temos que desmantelar essa ciência elitista e classista trazendo a ciência das mulheres de periferia, as mulheres faveladas, as mulheres negras, as mulheres que foram historicamente excluídas. Precisamos ver, pensar, imaginar e sonhar com uma ciência mais diversa. Indico, para todos esses aspectos, o site do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da Universidade Federal da Bahia; o livro “O recôncavo baiano sai do armário: universidade, gênero e sexualidade”; e o Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, da Universidade Estadual de Campinas.
Renata Fontanetto é coordenadora do Núcleo de Mídias e Diálogo com o Público do Museo da Vida, jarnalista especializada em divulgação científica e mestranda em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde da Fiocruz.